Friday, November 20, 2009

Cada um com suas flores...

O mais jovem mutilado de uma guerra bem presente lembra outra, do passado





Craig Wood fez 18 anos em abril. Tinha cara de menino, sonhos de aventura e uma tatuagem do Coringa original, de cabelos verdes, no peito. Entrou para o Exército britânico como soldado raso, foi para o Afeganistão e, uma hora e meia depois de sair na primeira patrulha, a bomba explodiu. Perdeu metade do nariz, um pedaço da boca, as duas pernas. O braço esquerdo foi amputado duas vezes, por causa de uma infecção. A sobrevivência em casos como o dele é tão difícil que o número de vítimas de amputação tríplice por trauma desse tipo gira em torno de uma dezena. Na Grã-Bretanha, Craig é o mais jovem mutilado de guerra. Na semana passada, foi à Bélgica participar das cerimônias em memória das vítimas da I Guerra Mundial. O fim da guerra é comemorado no Dia do Armistício, e até hoje, 91 anos depois, os ingleses usam papoulas vermelhas em coroas e lapelas por causa de um poema da época que fala das flores brotando entre as cruzes ("Nós somos os mortos. Dias atrás, vivíamos"). Não existem comparações possíveis entre os dois conflitos. A I Guerra foi um infernal sugadouro de vidas que flagelou a Europa. As baixas britânicas chegaram a 900 000. No Afeganistão, um conflito de outra natureza, contam-se 230 entre as forças britânicas (e quase 850 americanos). O presidente Barack Obama ainda está resolvendo se vai aumentar o número de tropas. No Iraque, um aumento similar teve o efeito de segurar os insurgentes e diminuir as baixas entre as forças aliadas. No Afeganistão é possível, mas não obrigatório, que aconteça o mesmo. A decisão é complicada. Craig Wood já não será afetado por esse tipo de coisa – ele só pensa em voltar a andar de jet ski e jogar PlayStation 3.



Fonte: Veja 2139-18.11.2009.

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