Saturday, December 08, 2007

As sombras do passado - Rosane na "veja"




Ninguém assistiu à ascensão e queda do ex-presidente Fernando Collor de uma posição mais privilegiada que a de Rosane Malta Collor. Nascida em Canapi, no sertão alagoano, Rosane casou-se com Collor aos 19 anos de idade, quando ele ainda era um inexpressivo deputado federal por Alagoas. Collor, como se sabe, elegeu-se governador do estado e, três anos depois, atingiu o ápice da carreira de qualquer político – a Presidência da República. Rosane estava ao lado de Collor quando ele subiu a rampa do Palácio do Planalto e, quase três anos depois, também o acompanhava, de mãos dadas, quando ele deixou o governo e entrou para a história como o primeiro presidente a sofrer um processo de impeachment. Rosane Collor nunca contou publicamente o que testemunhou então. Na semana passada, quinze anos depois, ela rompeu o silêncio. Separada de Collor há três anos, não se sente mais obrigada a ocultar segredos dos tempos de primeira-dama. Em entrevista a VEJA, ela conta detalhes dos momentos mais tensos do governo do marido na ótica de uma ex-esposa. Rosane fala da relação do ex-presidente com o tesoureiro entesourador Paulo César Farias, o PC, conta como ele reagiu às denúncias do irmão, diz que teve medo de Collor tentar o suicídio e detalha as incursões do primeiro-casal no terreno da magia negra. O depoimento de Rosane revela ainda um lado desconhecido da personalidade do ex-presidente: ciumento, ele mantinha a esposa sob permanente vigilância e, certa vez, chegou a acusá-la de manter um caso extraconjugal. Não eram raras as situações em que, contrariado, tinha explosões de fúria que levaram a mulher a suspeitar de que alguma coisa pudesse estar interferindo em seu comportamento. O casal ficou três meses separado durante a Presidência. Rosane Collor só se nega a falar, por enquanto, de um assunto: o destino dos milhões de dólares que a parceria entre o hoje senador Fernando Collor e PC Farias teria produzido.

Veja – A saída do presidente Collor e da senhora do Palácio do Planalto, há quinze anos, foi o maior desafio institucional enfrentado pelo país desde a volta à democracia. Como foram os minutos que antecederam aquele momento?
Rosane – Quando a Câmara dos Deputados votou o impeachment, eu estava na Casa da Dinda. Fernando pediu para ficar sozinho no gabinete presidencial. Não queria ninguém na sala dele. Ele me ligava a cada minuto, a cada voto. Dizia: "Quinha, esse cara jantou aí em casa, falou que votaria contra e acaba de votar a favor". No último voto, quando viu que não havia mais jeito, ele me disse: "Está perdido". Pedi para ele ter calma e não fazer nenhuma besteira. Em seguida, determinei a um assessor que não o deixassem só e que o trouxessem para casa.
Veja – O que ele lhe disse quando chegou em casa?
Rosane – Fernando desceu do helicóptero, beijou meu rosto e começou a chorar. Passamos uma noite terrível. Dormimos apenas uma hora. Ele estava destruído. Dois dias depois, voamos até o Palácio do Planalto para a cerimônia oficial da saída da Presidência. Havia manifestantes vaiando e gritando palavrões horríveis. O cerimonial ficou com medo de que arremessassem ovos e tomates. Queriam que saíssemos pelos fundos. Queriam humilhá-lo mais ainda.


Veja – O presidente e a senhora embarcaram em um helicóptero e foram para a Casa da Dinda. O que conversaram nesse trajeto?
Rosane – Fernando me disse que tinha um último desejo. Queria ver uma escola que estava sendo construída nas proximidades da Casa da Dinda. Estávamos sentados no banco de trás do helicóptero. Fernando fez esse pedido. Sem nem consultar o piloto, o ajudante pediu desculpas e informou que não havia gasolina. Fernando chorou. Foi o momento em que ele teve consciência de que não era mais presidente da República.

Veja – Entre a saída do Planalto, em setembro de 1992, e a renúncia ao mandato, em dezembro do mesmo ano, passaram-se três meses. Como foi esse período?
Rosane – Trocamos a noite pelo dia. Dormíamos às 6 horas da manhã e acordávamos à 1 da tarde. Fernando passou esse tempo todo trabalhando em sua defesa. Não saíamos de casa. Passamos a tomar remédios para dormir. Ele perdeu 14 quilos e eu, 10. Também comecei a temer pela vida dele.


Veja – Como assim? O presidente pensou em se suicidar?
Rosane – Fiquei com muito medo de que isso pudesse acontecer. Fernando era muito forte, mas ficou arrasado. Quando ele se levantava para ir ao banheiro, eu ia atrás. Tinha medo de que ele fizesse uma besteira. Havia duas ou três armas em casa. Mandei esconder tudo.


Veja – Qual foi o momento mais difícil?
Rosane – Foi quando o Pedro Collor fez as denúncias contra a gente. Além do caráter político, havia uma questão familiar muito importante em jogo. A mãe do Fernando, dona Leda Collor, morreu por causa disso. Dona Leda tinha pressão alta e tomava remédios controlados.


Veja – Pedro Collor desconfiava que o presidente assediava sua mulher, Thereza. A senhora acha que foi essa a razão que o levou a denunciar o irmão?
Rosane – Não acredito nisso. Eles se desentendiam desde que nasceram. Pedro, assim como Fernando, tinha um temperamento muito forte. Eles simplesmente não conseguiam conviver. Não lembro de um Natal que Fernando tenha passado com a família dele em 21 anos de casamento. Além disso, o Paulo César Farias montou um jornal em Maceió para concorrer com o jornal que pertencia à família do Fernando e era dirigido pelo irmão. Isso deixou o Pedro irado. Ele achava que o Fernando estava por trás do jornal do Paulo César.Veja – E não estava?
Rosane – Estava. Algumas vezes o Fernando queria colocar uma matéria no jornal e o Pedro não permitia. Ele tinha inveja do irmão.


Veja – A senhora e o presidente passaram um período rompidos durante o governo. Collor inclusive fez questão de aparecer em público sem aliança. O que ocorreu?
Rosane – Aconteceram duas coisas ao mesmo tempo. Fernando passou a reclamar do meu trabalho na Legião Brasileira de Assistência (LBA). Aos 25 anos, comecei a chamar a atenção da mídia. Os artistas gostavam de mim, e dele, não. Ele começou a ter muito ciúme. Ficou maluco quando publicaram uma foto minha de biquíni. Ele era tão ciumento que me ensinou a cumprimentar as pessoas com o braço firme e esticado, para evitar que alguém tentasse beijar o meu rosto.


Veja – O presidente, então, nunca desconfiou que a senhora mantinha um relacionamento extraconjugal?
Rosane – Num certo dia, ele chegou em casa à noite e me disse que havia uma fita na qual eu aparecia falando com um rapaz. Lidei com esse problema com a verdade. A tal fita nunca apareceu. Não havia condições práticas de eu manter um caso extraconjugal. Eu era vigiada 24 horas. Talvez por um minuto isso tenha passado na cabeça dele. Não mais que isso. Mas não foi por esse motivo que ele tirou a aliança. A razão principal foi mesmo o meu trabalho na LBA. Ele queria que eu cuidasse mais da casa. Por isso, passamos três meses separados.


Veja – Logo depois da separação, a senhora teve de deixar a presidência da LBA sob denúncias de corrupção. Foi coincidência?
Rosane – Um dia, ao chegar para trabalhar, encontrei a minha sala de trabalho arrombada. Reviraram todo o gabinete. Até hoje não sei se alguém entrou lá cumprindo ordens do presidente da República. Fui absolvida de todas aquelas acusações.


Veja – A senhora disse que o presidente era muito ciumento. Ele a agrediu fisicamente alguma vez?
Rosane – Não, mas já quebrou uma mesa de madeira após uma discussão. Às vezes nem era só por ciúme. Ele tinha muita raiva do que saía na imprensa. Quando soube que VEJA publicaria a matéria com as denúncias do Pedro Collor, ele deu murros na parede e derrubou tudo o que havia sobre a sua mesa de trabalho. Disse todos os palavrões possíveis. Falou que iria se vingar e que o Pedro pagaria por aquilo.


Veja – Collor sempre se declarou um católico praticante. Mas eram fortes os rumores de que ele freqüentava terreiros de macumba. Isso chegou a acontecer?
Rosane – Aconteceu. Eu e Fernando de fato participamos de trabalhos espirituais. Alguns chegaram a ocorrer na Casa da Dinda, mas eu não gostava muito. Pedi para acabar com isso lá em casa. Aí os trabalhos começaram a ser feitos numa casa vizinha, cedida por um amigo.


Veja – Com que freqüência isso ocorria?
Rosane – Não lembro. Mas recordo que isso se intensificou no último ano de governo, quando começamos a ter mais dificuldades em Brasília.


Veja – Havia sacrifício de animais?
Rosane – Sim.

Veja – O presidente participava?
Rosane – Sim. Mas era uma coisa horrível. Nem gosto de lembrar.


Veja – A senhora chegou a freqüentar essa casa?
Rosane – Fui lá algumas vezes. Eu não gostava de assistir ao sacrifício de animais. Passava mal sempre que via sangue.Veja – Como vocês faziam para freqüentar esses cultos sem chamar atenção?
Rosane – Era sempre de madrugada.


Veja – Qual era o objetivo desses rituais?
Rosane – Fernando pedia proteção. Pedia que todo mal que alguém lhe desejasse voltasse para a pessoa que o estava amaldiçoando.


Veja – O presidente tinha mania de perseguição?
Rosane – Ele achava que sempre havia alguém querendo prejudicá-lo. Tinha muita raiva da imprensa.


Veja – É verdade que o presidente era usuário de drogas?
Rosane – Ele nunca fez nada na minha frente. Mas houve uma época em que todo mundo só falava disso. Até as minhas amigas começaram a me perguntar. Fernando apresentava alterações de humor muito bruscas. Às vezes, quando ficava bravo, ele dava socos e batia com a cabeça na parede. Uma vez ele quebrou a porta da casa da mãe por causa de um acesso de raiva. Passei a ficar desconfiada. Perguntei-lhe algumas vezes se usava drogas. Ele sempre me disse que não. Como ele gostava muito de beber, achei que poderia ser efeito da bebida.


Veja – Como era sua rotina como primeira-dama?
Rosane – Havia um lado glamouroso que era maravilhoso. Conheci príncipes e princesas, reis e rainhas, viajei pelo mundo e convivi com gente que jamais imaginaria, como a princesa Diana e a Barbara Bush. Mas também havia um lado muito difícil.


Veja – Qual é o sabor do poder?
Rosane – Ter dinheiro não é a mesma coisa que ter poder. Todo o dinheiro do mundo não poderia comprar um jantar com a princesa Diana. Eu já fui recebida em jantar por ela. Na Espanha, fomos hóspedes do rei Juan Carlos, esse que acabou de mandar Hugo Chávez calar a boca. Nos Estados Unidos, fomos hóspedes do George e da Barbara Bush. Ela sempre me mandava cartas e chegou a me enviar um livro que fez para o seu cachorrinho. Ela tinha um carinho especial por mim.


Veja – Foi muito difícil voltar a levar uma vida normal depois do impeachment?
Rosane – Conseguimos dar a volta por cima. Em Miami, pudemos levar uma vida normal. Eu e Fernando dirigíamos o próprio carro. Jogávamos tênis, estudávamos inglês, almoçávamos juntos e viajávamos bastante. Ele montou um escritório num prédio luxuoso, onde costumava passar as tardes.


Veja – Qual era, afinal, a relação entre Collor e Paulo César Farias, o PC Farias?
Rosane – Paulo César era homem de confiança do Fernando. Era ele quem cuidava de todas as questões financeiras. Ninguém entrega a tarefa de arrecadar dinheiro para sua campanha a alguém em quem não confia. Mas isso não significa que ele vivia na minha casa. Não convivíamos. Era uma relação profissional.


Veja – Collor sempre garantiu que nunca mais voltou a ver o tesoureiro PC Farias depois de tomar posse como presidente. Isso é verdade?
Rosane – Ele e Paulo César tomaram café-da-manhã juntos algumas vezes na Casa da Dinda depois da posse. Também se encontraram várias vezes fora dali.


Veja – Durante o governo Collor, uma frase de PC Farias que ficou famosa dizia o seguinte: "Madame está gastando demais". Quando a senhora descobriu que PC Farias pagava despesas pessoais da senhora e de sua família?
Rosane – Fiquei sabendo disso pelo noticiário. Eu não sabia nem o que era fantasma. É muito difícil saber que até o seu dentista é pago por outra pessoa. Fernando me dizia que nada do que estavam falando era verdade. Tudo o que eu queria o meu marido me dava. Para mim, até então, o dinheiro era dele. Ele era muito fechado sobre a relação que mantinha com o Paulo César.


Veja – Como o presidente reagiu à notícia da morte de PC Farias?
Rosane – Estávamos no Taiti. Primeiro, ele ficou chocado. Depois, ficou com muito medo de ser acusado de ter mandado assassinar o Paulo César.

Veja – Por que vocês não foram ao enterro dele?
Rosane – Nessa época, eles já tinham pouco contato. Lembro apenas de ele ter ligado para um dos irmãos se solidarizando.


Veja – A prisão de PC Farias na Tailândia deixou o presidente preocupado?
Rosane – Ficou apreensivo.


Veja – A senhora acha que Collor errou ao receber dinheiro de PC Farias?
Rosane – Eu nunca soube exatamente que tipo de acordo regulava as relações financeiras entre Fernando e Paulo César.


Veja – A senhora, então, achava que o presidente era um homem muito rico?
Rosane – Sempre achei que o Fernando fosse rico. Quando moramos em Miami, ele me deu um Porsche de presente. Tínhamos uns dez cartões de crédito. Também guardávamos dinheiro em um cofre da casa. Quando voltamos ao Brasil, continuamos vivendo maravilhosamente bem. A minha mesada era de 40 000 reais. Passávamos o réveillon em Angra dos Reis com ilha alugada, com segurança, mordomo e até helicóptero. Também costumávamos esquiar em Aspen. Com a nossa separação, em 2005, descobri que Fernando tem uma renda mensal declarada de 25 800 reais.


Veja – Entre o impeachment, em 1992, e a sua eleição para o Senado, no ano passado, o ex-presidente praticamente não trabalhou. Como ele bancava seus gastos pessoais com uma renda de 25 800 reais?
Rosane – Não posso falar sobre isso.


Veja – Estima-se que a parceria entre PC Farias e o ex-presidente tenha deixado um saldo de 60 milhões de dólares em contas secretas no exterior. A senhora tem alguma idéia de onde foi parar esse dinheiro?
Rosane – Não posso falar sobre isso.


Veja – A senhora acredita que o presidente tenha contas secretas no exterior?
Rosane – Não posso falar sobre isso.


Veja – A senhora não pode responder porque não sabe ou porque tem medo de sofrer alguma retaliação?
Rosane – Não posso falar sobre isso.

Sunday, December 02, 2007

Amor demais estraga - Veja 1805-04/06/2003



O psiquiatra Içami Tiba diz que os pais precisam ser duros para manter os filhos longe das drogas

Quando o assunto é o consumo de drogas entre os jovens, o psiquiatra paulista Içami Tiba, de 62 anos, não tem meias palavras. No livro Anjos Caídos, ele descreve uma dezena de disfarces, sete comportamentos suspeitos e mais de vinte respostas que jovens usam para convencer adultos de que não fumam maconha. Esse estilo direto às vezes pode render dissabores. Tiba está sendo processado por ter qualificado o campus da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo como um "antro de maconha", em uma entrevista. Ele não volta atrás no que disse e acredita que falam a seu favor 34 anos de profissão, 70 000 atendimentos psicoterápicos e 2 500 palestras mundo afora, além de catorze livros, com 600 000 exemplares vendidos. O último – Quem Ama, Educa! (Editora Gente) – está na 31ª edição.

Tiba aplicou suas teorias na criação de três filhos, um advogado, uma psicóloga e uma estudante de direito. Nesta entrevista, ele dá sua receita para o sucesso na educação das crianças. Isso inclui, ele adverte, evitar manifestações de "amor em excesso".

Veja – O senhor está sendo processado por ter dito que a PUC paulista é um "antro de maconha"...
Tiba – É verdade. Reconheço que se trata de uma respeitável instituição científica, mas não posso concordar com a filosofia de não reprimir o uso de drogas que vigora lá. Há, sim, uma cultura de fumar maconha nos corredores do campus, como se fosse a coisa mais comum do mundo. Eu mesmo testemunhei isso, pois fui professor lá durante quinze anos. Além disso, tenho pacientes que estudam lá e dizem o mesmo. Como médico, não posso falsear esse diagnóstico.

Veja – O episódio da estudante baleada numa universidade carioca tem relação com a penetração das drogas nas escolas?
Tiba – Os traficantes descobriram que a melhor maneira de disseminar a droga na sociedade é através da escola. Dali o jovem a leva para dentro da família e para o grupo de amigos. As escolas de ensino médio, sobretudo, tornaram-se um ótimo mercado. O traficante nem se expõe. Em praticamente todas há os minitraficantes, pessoas que se infiltram no meio dos alunos a serviço dos grandes. Às vezes são recrutados entre os próprios estudantes e recebem mais de 800 reais por mês. Há também muitos microtraficantes, alunos que pegam dinheiro dos colegas para comprar a droga e depois a distribuem. Não é preciso subir no morro nem ir à boca-de-fumo. A droga pode ser adquirida logo ali, na barraquinha ao lado da escola.

Veja – Muitos pais que experimentaram maconha são tolerantes com os filhos que repetem essa experiência porque não acreditam que ela seja porta de entrada para drogas mais pesadas.
Tiba – Na minha interpretação, ela é, sim, porta de entrada para drogas mais pesadas. Mas a porta para o vício é mesmo o álcool. A primeira coisa que o álcool faz na pessoa é diluir seu superego, instância da personalidade que agrega, entre outros, os padrões comportamentais. A partir daí, o indivíduo faz apenas coisas de que tem vontade e não o que aprendeu que deve ser feito. Tem extrema dificuldade para fazer a coisa certa. Esbarrou, já quer brigar, não agüenta desaforos, fica violento. O jovem que já estava pensando em experimentar maconha, e não tinha coragem, quando ingere bebidas alcoólicas vai provar, pois aquele freio foi destruído pelo álcool. Como a maconha despersonaliza a pessoa, daí para a cocaína é um passo.

Veja – Mas o que devem fazer pais que provaram maconha e não se viciaram? Há os que fumam com os filhos e há os que proíbem.
Tiba – Fumar com eles, nem pensar. Senão depois vão jogar na cara dos pais que se viciaram por culpa deles. Os pais têm de falar que são contra, que tiveram sorte de não ter se viciado. Quando possível, citar exemplos de conhecidos que se prejudicaram muito, ou até morreram, por causa da droga. É preciso ser duro e proibir. A proibição pode não evitar que eles fumem, mas saberão que estão agindo contra a vontade dos pais. Quanto a estes, pessoas que no passado fumaram maconha e se deram bem na vida em geral não deixaram que a droga atrapalhasse a vida delas. São comparáveis a pilotos de Fórmula 1 que não morreram, apesar do risco que correm nas pistas. Paulo Coelho, Bill Clinton e Fernando Henrique Cardoso, que admitem ter experimentado maconha, tornaram-se pessoas bem-sucedidas, mas são sobreviventes, assim como quem pratica esportes perigosos e não morre. Por outro lado, há quarenta anos, fumar maconha não era o objetivo em si. Fumava-se maconha e se queimavam sutiãs como forma de transgressão. Hoje, o uso da maconha é totalmente diferente. A maconha não é mais bandeira de coisa alguma. É comum ouvir papo furado do tipo "Fumo maconha porque sou livre". Está errado, pois quem é livre não precisa usar drogas.

Veja – O senhor é a favor da descriminação da maconha?
Tiba – Não. O Brasil não está preparado para uma medida tão radical. Não sou a favor de ficar prendendo usuários, mas também não sou a favor de liberar geral, pois, se os caras estão se perdendo com cerveja, imagine com maconha.



Veja – Por que o senhor diz que amor em excesso pode gerar filhos drogados?
Tiba – O amor sem limites deixa que se desenvolva demais o lado animal e instintivo do jovem, que passa a fazer apenas aquilo de que tem vontade. Para esse jovem, o que interessa é o prazer. A maioria dos pais faz de tudo para agradar aos filhos e eles aprendem a ter prazer sem fazer nenhum esforço. Aí, quando vão para a rua, logo encontram quem lhes ofereça um baseado, uma dose de prazer.

Veja – Quando os pais devem começar a desconfiar que o filho está usando drogas?
Tiba – A maioria só desconfia quando a performance do filho na escola piora. Aí, pode ser tarde demais, pois o rendimento escolar é uma das últimas máscaras a cair. Antes, já caiu a ética relacional, que se traduz na falta de respeito às pessoas. Há também uma diminuição do afeto. Antes, ele se mobilizava para ajudar os pais a resolver pequenos problemas, ficava preocupado quando a mãe tinha uma dor de cabeça. Depois, o mundo pode desabar que ele não está nem aí, como se fosse um pensionista da casa.

Veja – Como identificar os primeiros sinais dessa situação?
Tiba – Além do comportamento suspeito que já citei, há outros disfarces fáceis de ser percebidos. Em geral, usar incenso, perfumar o ambiente ou deixar o chuveiro ou o ventilador ligados o tempo todo são estratégias para acabar com a marofa, a fumaça da maconha. Deve-se prestar atenção também na fala dos filhos. Se o garoto começa a se preocupar muito com os horários de saída e chegada dos pais, é outro sinal de que pode estar aprontando alguma. É suspeito ainda quando o jovem diz que "todo mundo está usando maconha", numa tentativa de minimizar o problema. Na verdade, isso significa que ele está andando com usuários. Quando o jovem começa a dizer que maconha faz menos mal que outras drogas, então é porque já se tornou, ele próprio, um usuário. Ninguém defende o que não lhe interessa.

Veja – É possível blindar os filhos contra as drogas?
Tiba – A melhor proteção é criar condições para que ele tenha auto-estima e, desde cedo, informá-lo sobre os malefícios das drogas. Os pais não têm como controlar a vida do adolescente, mas devem patrulhar o filho quando houver motivo para desconfianças. O jovem se fechar no quarto, por exemplo, é natural. Está querendo privacidade. Mas, se tranca a porta, está colocando os pais para fora da vida dele. Privacidade a chave é expulsão dos outros. Isso os pais não podem permitir.

Veja – Em seu último livro, o senhor afirma que educar é diferente de criar. Qual a diferença?
Tiba – Os pais que educam têm como foco preparar os filhos para a vida. Os que criam acham que resolvem os problemas para eles. A maioria dos pais demora para fazer os filhos assumir responsabilidades. Por isso, é comum encontrar jovens que, apesar de bem-criados e bem nutridos, são mal-educados. São adolescentes que diante de qualquer situação adversa desistem ou partem para a ignorância.

Veja – Que valores os pais devem inculcar nos filhos?
Tiba – Os principais são disciplina, gratidão, religiosidade, cidadania e ética. Por exemplo, quando o pai dá um presente ou mesmo um bombom ao filho e ele sai correndo sem dizer um "obrigado", ou o diz sem olhar nos olhos, não vale. Tem de ser incisivo: "Filho, olhe nos meus olhos e agradeça". Assim mesmo, na bucha. Essa postura de cobrança pelos mínimos bons costumes, se for constante, vai surtir um efeito para a vida inteira.

Veja – O bom exemplo dos pais influencia também na formação ética?


Tiba – A maneira como o filho trata uma empregada é uma cópia fiel da forma como seus pais a tratam. Se o pai ou a mãe fala "Vamos rezar" e quando sai da igreja já xinga um transeunte, dá o direito de o filho questionar: "Então a espiritualidade só vale dentro da igreja?". Não adiantam apenas exemplos de boa conduta. Muitas vezes, o filho joga algo no chão e o pai pega, achando que está sendo exemplar. Está errado, pois o que o pai tem de fazer é obrigar o filho a pegar. De outro modo, ele vai achar-se no direito de jogar papel no chão da escola e não apanhar. Afinal, essa função é da faxineira.

Veja – O que o senhor entende por religiosidade é freqüentar igreja?
Tiba – É um sentimento instintivo do ser humano, que precede as religiões. Significa gente gostar de gente. Hoje em dia se valoriza muito pouco o respeito ao outro, independentemente do credo. Quando o filho maltrata o pai e este engole o mau trato sem reagir, dá uma grande lição de não-religiosidade. Quando o filho quebra um copo num momento de raiva, é comum o pai dizer: "Eu sei que você não fez por querer". Ao invés de poupá-lo e tirar a culpa do filho, o certo é fazer com que ele arque com as conseqüências de seu ato.

Veja – Adianta castigar ou cortar a mesada?
Tiba – Mais do que cortar a mesada, o importante é fazê-lo repor o que quebrou. Tirar dinheiro é muito fácil. O filho tem de se dar ao trabalho de comprar um copo igual no lugar do próximo brinquedo, por exemplo. É uma forma de chamá-lo a assumir a conseqüência pelo ato praticado. Castigo não resolve coisa alguma. Se aqueles rapazes de Brasília que queimaram o índio Galdino, em vez de presos, tivessem sido condenados a trabalhar durante um ano na seção de queimados de um hospital, o efeito pedagógico seria muito melhor. Na cadeia, até gozam de certas mordomias. Não devem ter aprendido nada lá.

Veja – Têm-se visto muitos casos de atrocidades cometidas por jovens de classe média, como alguns que mataram os pais. O que são esses casos?


Tiba – Quando um filho chega ao ponto de atentar contra a vida dos pais, o respeito já se perdeu faz tempo. Ninguém que ama mata assim de repente, por impulso. Essa tese é desculpa de advogado. A situação já estava complicada. Tanto que aquele pai que matou o filho em São Paulo, há dois meses, alegou legítima defesa e obteve o apoio da família. Imagine, nem a mãe lamentou que o pai tenha matado o filho! O rapaz já estava em um estágio tão ruim que seu pai se viu em um triste dilema: era matar ou morrer. Boa parte da culpa nesses casos é dos pais, que, incompetentes para dar uma boa educação, tentam compensar arcando com as conseqüências das besteiras cometidas pelos filhos.

Veja – Nesses casos, dá para dizer que a droga foi o principal combustível?


Tiba – Há uma corrente, com a qual eu não concordo, que defende que a droga apenas desperta o assassino que a pessoa tem dentro de si. Eu acho que não é assim. Quando começam a usar drogas, as pessoas perdem a ética. Depois, têm a afetividade alterada, piora o rendimento escolar e, só aí, o organismo começa a ser atingido. Os bons princípios são devastados bem antes pelas drogas, e a pessoa passa a pensar que pode tudo. Poder sem ética vira violência.

Veja – As teorias que o senhor prega foram colocadas em prática na educação de seus filhos?
Tiba – Meus filhos não funcionaram como laboratório nem cobaia para minhas teorias, mas eu e minha esposa nos empenhamos bastante para torná-los capazes de enfrentar bem a vida. Em casa, nunca entregamos nada pronto para eles. Nosso lema sempre foi: "Quem sabe fazer aprendeu fazendo". Criamos uma espécie de contrato de conseqüência, ou seja: se produziam ou agiam bem, eram recompensados pelo esforço feito. Se não, sofriam a conseqüência.

Veja – O senhor os colocava de castigo? Batia neles?
Tiba – Não os castigava. Eu os ensinei a arcar com o ônus e o bônus de seus atos. Também nunca bati, mas, às vezes, quando algum fazia muita birra, eu dava uns gritões na orelha dele e estabelecia um prazo para ele mudar de idéia.

Saturday, December 01, 2007

Josef Ganz - Um ilustre desconhecido


Aquela velha historia, de que foi Ferdinand Porsche, que projetou o “Volkswagen”, a cada dia é mais contestada. Alem do caso Hans Ledwinka/Tatra, agora temos a publicação de uma biografia de Josef Ganz, projetista de origem judaica, responsavel pelos projetos do Bungartz Butz, bem como do Standard Superior. Este último, foi o primeiro carro, onde a expressão “Volkswagen” teve o seu batismo. Era equipado com motor bicilindrico “dois tempos” refrigerado a agua, com opçao de 400cc/12 hp, ou 500cc/16 hp., localizado tambem na traseira, em conjunto com o cambio. O chassis utilizava o sistema já em voga na Tatra, com uso de um tubo central, onde era soldada a plataforma e suspensões. As dimensões gerais do carro eram de 3,30 m.x 1,40, com distancia entre eixos de 2,00 m. Utilizava pneus aro 26 x 3,5. Apesar do contido peso de apenas 490 kg., conseguia a proeza de carregar 2 passageiros adultos e 2 crianças, padrão mínimo, e altamente aceitavel para a época. Suas linhas eram extremamente aerodinamicas, sendo contemporaneas as do famoso Chrysler Airflow.

Josef Ganz, alem de projetista, era também renomado jornalista do periódico Motor-Kritik. Suas atividades foram alvo de perseguições por parte do regime nazista então vigente, tendo o mesmo se exilado primeiramente na Suiça, e posteriormente na Austrália, onde exerceu atividades na Holden. Desapareceu incógnito em 1967.

Informações adicionais, e fotos de outros protótipos, podem ser consultadas no link abaixo, em polonês:
http://pollak-presse.tatraportal.sk/Automobilia/Ganz%20konstrukter%20VW.pdf