Saturday, September 27, 2008

Somos um país de analfabetos

"A verdadeira democracia tem de oferecer
a todos o direito de saber ler e escrever,
pensar, questionar e escolher"





Segundo pesquisa do confiável IBGE, estamos num vergonhoso lugar entre os países da América Latina, no que diz respeito à alfabetização. O que nos faltou e tanto nos falta ainda? Posso dizer que tem sobrado ufanismo. Não somos os melhores, não somos invulneráveis, somos um país emergente, com riquezas ainda nem descobertas, outras mal administradas. Somos um povo resistente e forte, capaz de uma alegria e fraternidade que as quadrilhas, o narcotráfico e a assustadora violência atuais não diminuem. Um povo com uma rara capacidade de improvisação positiva, esperança e honradez.

O sonho de morar fora daqui para escapar não vale. Na velha e sisuda Europa não há um sol como este. Recordo meu espanto na primeira estada por lá, num verão, vendo o sol oblíquo e pálido. Lá não se ri, não se abraça como aqui. Eles trabalham mais e ganham mais, é verdade. A pobreza por lá é menos pobre porque, se fosse miserável, morreriam todos de frio na primeira nevasca. O salário-desemprego é tão bom que, infelizmente, muitos decidem viver só com ele: o mercado de trabalho lá também é cruel, e com os estrangeiros, nem se fala. Em muitas coisas somos muito melhores.

Mas somos um país analfabeto. Alfabetizado não é, já disse e escrevo freqüentemente, aquele que assina seu nome, mas quem assina um documento que leu e compreendeu. A verdadeira democracia tem de oferecer a todos esse direito, pois ler e escrever, como pensar, questionar e escolher, é um direito. É questão de dignidade. Quando eu era professora universitária, na década de 70, já recebíamos nas faculdades vários alunos que mal conseguiam escrever uma frase e expor um pensamento claro. "Eu sei, mas não sei dizer nem escrever isso" é uma desculpa pobre. Não preciso ser intelectual, mas devo poder redigir ao menos um breve texto decente e claro. Preciso ser bem alfabetizado, isto é, usar meu instrumento de expressão completo, falado e escrito, dentro do meu nível de vida e do nível de vida do meu grupo.

Para isso, é essencial uma boa escola desde os primeiros anos, dever inarredável do estado. Não me digam que todas as comunidades têm escolas e que estas têm o necessário para um ensino razoável, para que até o mais pobre e esquecido no mais esquecido e pobre recanto possa se tornar um cidadão inteiro e digno, com acesso à leitura e à escrita, isto é, à informação. Um sujeito capaz de fazer boas escolhas de vida, pronto para se sustentar e que, na grave hora de votar, sabe o que está fazendo. Enquanto alardeamos façanhas, descobertas, ganhos e crescimento econômico, a situação nesse campo está cada vez pior. Muito menos pessoas se alfabetizam de verdade; dos poucos que chegam ao 2º grau e dos pouquíssimos que vão à universidade, muitos não saem de lá realmente formados. Entram na profissão incapazes de produzir um breve texto claro. São desinteressados da leitura, mal falam direito. Não conseguem se informar nem questionar o mundo. Pouco lhes foi dado, pouquíssimo lhes foi exigido.

A única saída para tamanha calamidade está no maior interesse pelo que há de mais importante num país: a educação. E isso só vai começar quando lhe derem os maiores orçamentos. Assim se mudará o Brasil, o resto é conversa fiada. Investir nisso significa criar mais oportunidades de trabalho: muito mais gente capacitada a obter salário decente. Significa saúde: gente mais bem informada não adoece por ignorância, isolamento e falta de higiene. Se ao estado cabe nos ajudar a ser capazes de saber, entender, questionar e escolher nossa vida, é nas famílias, quando podem comprar livros, que tudo começa. "Quantos livros você tem em casa, quantos leu este mês? E jornal?", pergunto, quando me dizem que os filhos não gostam de ler. Família tem a ver com moralidade, atenção e afeto, mas também com a necessária instrumentação para o filho assumir um lugar decente no mundo. Nascemos nela, nela vivemos. Mas com ela também fazemos parte de um país que nos deve, a todos, uma educação ótima. Ela trará consigo muito de tudo aquilo que nos falta.

Lya Luft é escritora

Saturday, August 16, 2008

Abandonada no Campo de Centeio

Ex-namorada de Salinger revela esquisitices
do autor em um volume de memórias




Depois de passar vários anos lidando com a rejeição de editores, o escritor americano J.D. Salinger finalmente conseguiu publicar seu primeiro livro em 1951. O romance se chamava O Apanhador no Campo de Centeio e, para surpresa dos detratores do autor, transformou-se instantaneamente em clássico. Com seu protagonista rebelde, sua linguagem coloquial, seu retrato saboroso da idade dos distúrbios hormonais, o romance ganhou os adolescentes do mundo assim como O Pequeno Príncipe arrebata legiões de leitores infantis. Mas, em vez de saborear o sucesso, Salinger disse basta. Corria o ano de 1965 quando ele fechou a porteira de seu rancho na cidadezinha de Cornish, trancou seus inéditos num cofre e não deu mais notícias ao mundo. Nenhuma obra sua foi publicada desde então. Imprensa, reportagens, fãs — adeus! A curiosidade alheia se tornou o flagelo de Salinger, que luta com unhas e dentes para defender sua privacidade diante da ameaça dos bisbilhoteiros. Há dez anos, por exemplo, um estudioso descobriu algumas de suas cartas de juventude. Salinger o processou e impediu que as publicasse. No próximo mês de outubro, porém, uma obra cheia de revelações bombásticas deverá vir à luz. Sua autora é Joyce Maynard, ex-namorada do famoso recluso. E será difícil pará-la. "Tivemos todos os cuidados legais", diz Linda McFall, executiva da editora Picador, que prepara o lançamento de At Home in the World (Em Casa no Mundo) nos Estados Unidos.

O romance entre Joyce e Salinger durou só nove meses, entre 1972 e 1973. Quando começou, ela não era mais que uma ninfeta de QI elevado. Tinha 18 anos, era caloura da Universidade Yale e havia escrito uma reportagem de capa para a revista do New York Times. O artigo causou frisson. Entre as mensagens de elogio, surpresa: uma carta de J.D. Salinger, a estrela da ficção americana, um dos 25 autores mais lidos na história do país. Os dois engrenaram na troca de correspondência. Salinger, com 53 anos, pedia que ela o chamasse de Jerry e dissertava sobre homeopatia e enlatados de TV. Depois de alguns meses, Joyce mudou-se de mala e cuia para a fazenda de Cornish. Nos episódios do livro que foram antecipados, Salinger aparece alternadamente como um homem gentil e cruel, esquisito e implacável.

A gentileza se manifesta no tato com que ele reagiu a certos problemas de sua amada, que a impediam de consumar o ato sexual. A crueldade, na maneira seca com que pronunciava frases do tipo: "Você está ridícula". A esquisitice tinha a ver com seus hábitos: ele causava vômitos em si mesmo (e em Joyce) cada vez que tinha de ingerir alimentos "impuros", fazia sessões diárias de meditação e era adepto de terapias alternativas. Mas sua obsessão era mesmo a privacidade. Salinger dizia a Joyce que publicar livros era um "negócio sujo" e por isso escondia no cofre dois romances já terminados. Quando sentiu que a presença da moça punha em perigo seu santuário, foi inflexível. Mandou-a embora. Ponto.

Ao revelar esses fatos, Joyce Maynard alimenta a bolsa de fofocas, mas acrescenta pouco à compreensão literária de seu ex-par romântico. No máximo demonstra que ele deixou para trás os bons sentimentos contidos em O Apanhador no Campo de Centeio. Afinal, o romance afirma: "Bom mesmo é o livro que, quando a gente acaba de ler, faz com que queiramos ser um grande amigo do autor, para poder telefonar para ele toda vez que der vontade". Nem pense nisso com Salinger.

Saturday, August 09, 2008

Por uma sociedade justa e eficiente - Stephen Kanitz - Veja

Que sociedade é mais justa, aquela que valoriza as boas
intenções e o esforço ou aquela que valoriza os resultados?
Uma boa pergunta para começar a discutir no retorno às aulas







No primeiro ano de faculdade aprendi um truque que muito me auxiliou na hora de obter notas melhores. Descobri que, numa prova na qual cai um tema que você não estudou, que o pegou de surpresa, sobre um assunto de que você não sabe absolutamente nada, o melhor é não entregá-la em branco, que seria a coisa mais lógica e correta a fazer. Nessas horas, escreva sempre alguma coisa, preencha o papel com abobrinhas, pois, quanto maior o número de páginas, melhor. Isso porque existem dois tipos de professor no Brasil: um deles é formado pelos que corrigem de acordo com o que é certo e errado. São geralmente professores de engenharia, produção, direito, matemática, recursos humanos e administração. Escrever que dois mais dois podem ser três ou doze, dependendo "da interpretação lógica do seu contexto histórico desconstruído das forças inerentes", não comove esse tipo de professor. Ele dá nota dependendo do resultado, e fim de papo.

Mas, para a minha alegria, e agora também para a sua, existe outro tipo de professor, mais humano e mais socialmente engajado, que dá nota segundo o critério de esforço despendido pelo aluno e não apenas pelo resultado. Se você escreveu dez páginas e disse coisas interessantes, mesmo que não pertinentes ao tema, ficou as duas horas da prova até o fim, mostrou esforço, ganhará uns pontinhos, digamos uma nota 3 ou até um 3,5. O que pode ser a sua salvação. Na próxima prova você só precisará tirar um 6,5 para compensar, e não uma impossível nota 10. Se você estudar um mínimo e usar esse truque, vai tirar um 5.

Uma vez formados, os alunos desse tipo de professor são muito fáceis de identificar. Seus textos são permeados de abobrinhas e mais abobrinhas, cheios de platitudes e chavões. Defendem que a renda deve ser distribuída pelo esforço, e não pelo resultado, e que toda criança que compete deve ganhar uma medalha. Defendem que todo professor de universidade deve ganhar o mesmo salário, independentemente da qualidade das aulas, e que a solução para a educação é mais e mais verbas do governo, sem nenhuma avaliação de desempenho.

Esses dois tipos de professor obviamente não se bicam. É a famosa briga da turma da filosofia contra a turma da engenharia. São as duas grandes visões políticas do mundo, é a diferença entre administração pública e privada. O que é mais justo, remunerar pelo esforço de cada um ou pelos resultados alcançados? O que é mais correto, remunerar pela obediência e cumprimento de horário ou pelas realizações efetivas com que cada um contribuiu para a sociedade?

Como o Brasil ainda não resolveu essa questão, não podemos discutir o próximo passo, que são as injustiças da opção feita. É justo só remunerar pelo resultado? É justo remunerar somente pelo esforço? Podemos até escolher um meio-termo, mas qual será a ênfase que daremos na educação dos nossos filhos e na avaliação de nossos trabalhadores? Ao esforço ou ao resultado?

Quem tentou ser útil à sociedade mas fracassou teria direito a uma "renda mínima"? É justo dar 3,5 àqueles cujo esforço foi justamente enganar seus professores e o "sistema"? Não seria justo dar-lhes um sonoro zero? Precisamos optar por uma sociedade justa ou por uma sociedade eficiente, ou podemos ter ambas?

Como aluno, eu tive de me esforçar muito mais para as provas daqueles professores carrascos, que avaliavam resultados, do que para as provas dos professores mais bonzinhos. Quero agradecer publicamente aos professores "carrascos" pela postura ética que adotaram, apesar das nossas amargas críticas na época. Agora entendo por que tantos de nossos cientistas e professores pertencem à Academia de Letras, por que somos o último país do mundo em termos de patentes, por que tantos brasileiros recebem sem contribuir absolutamente nada para a sociedade e por que nossos políticos falam e falam e não realizam nada.

Que sociedade é mais justa, aquela que valoriza as boas intenções e o esforço ou aquela que valoriza os resultados? Uma boa pergunta para começar a discutir no retorno às aulas.

Monday, August 04, 2008

Sobre o meu pai Arthur - Lya Luft






"Seu olho verde faiscava de brabeza ou transbordava
de afeto. O rumor de seu passo no corredor botava o
meu mundo em ordem. Sua risada era aberta e franca,
seu abraço era cálido, sua alegria, generosa"



Nesta coluna homenageio meu pai Arthur, que morreu quando eu tinha 35 anos, e de quem, 35 depois, ainda recordo todos os dias, pelo seu legado de carinho, justiça, integridade e proteção, que até agora me dá força quando preciso dela (preciso muitas vezes). As propagandas em torno do Dia dos Pais, se irritam pela comercialização (para quem deseja isso) em torno do afeto, servem de lembrete a quem anda esquecido do seu pai.

Então tenho lembrado com mais intensidade do meu, que era severo e terno. Seu olho verde faiscava de brabeza ou transbordava de afeto. O rumor de seu passo no corredor botava o meu mundo em ordem. Sua risada era aberta e franca, seu abraço era cálido, sua alegria, generosa. Tinha momentos de melancolia, em que fitava um ponto distante longo tempo sem falar. Seu amor pela família foi talvez seu traço mais marcante. Ensinou-me o nome das árvores do jardim e os cuidados com elas, para que dessem frutas doces. Transmitiu-me a noção do sagrado das coisas e das pessoas. Gostava de tranqüilidade, meu pai Arthur. Recusou sistematicamente os convites para deixar nossa pequena cidade e assumir cargos importantes. Era atento e compreensivo, ajudou fugitivos da II Guerra, levava cobertores ou remédio aos pobres, aconselhava amigos e desconhecidos que vinham lhe pedir orientação. Lembro-me do que relatou alguém que o procurou em casa, e ele, interrogado sobre sua vasta biblioteca, apontou os livros e disse com simplicidade: "Eles são meus amigos".

Era também exigente, meu pai Arthur. Aborrecia-se com meu boletim invariavelmente medíocre, porque eu não gostava de estudar: queria ficar em casa, lendo em meu quarto ou debaixo de alguma árvore, e achava as regras de disciplina da escola antes cômicas do que respeitáveis. Além de negligente na escola, em casa não conseguia ser a menina prendada que minha mãe desejava.

Não podia competir com suas sobrinhas ou filhas de amigas, num tempo em que ser prendada era importante (para mim, era bobagem): meus bordados saíam tortos, minha incapacidade de arrumar a cama era patética, meu horror à cozinha era vergonhoso, eu respondia mal à minha mãe, ou lhe mostrava a língua. Era um desastre, e me sentia assim. Quando as queixas de mãe e professores se tornaram excessivas, ele me pôs num internato. "Para o seu bem", ele disse. Não esqueço a dor daquele dia e dos outros, nem a minha gratidão quando, dois meses depois, em uma visita, anunciei que se ele não me tirasse dali eu morreria, e ele me levou para casa. Por essa, e tantas outras coisas, dediquei-lhe especialmente um de meus livros, dizendo: "A meu pai Arthur, para quem eu não era só uma criança: eu era uma pessoa". Ainda falo com ele, recorro a ele em minhas aflições, pedindo que, como fez em vida, me ajude em minhas trapalhadas. (Não sei como, mas ele ajuda.)

Nele, antecipando o Dia dos Pais que se aproxima, homenageio todos os pais que não vão ter o carinho dos filhos pequenos ou adultos, nem um telefonema alegre, nem um almoço ruidoso, nem mesmo um recado. Homenageio os pais que ficarão sozinhos fingindo que não faz mal, que filho é assim mesmo, que a vida é assim. Não é assim. Em meu pai Arthur, homenageio os pais que não puderam estar sempre junto de seus filhos porque, longe, precisavam garantir o seu sustento; que foram relegados quando não tinham mais dinheiro ou saúde; criticados quando quiseram buscar alguma felicidade; ou que, sem entender, foram declarados dispensáveis e desimportantes.

Não posso esquecer aqui aqueles pais que perderam um filho ou filha, na dor que não se cura com nada. Mas penso também nos pais alegres, nos pais carinhosos, nos pais protetores, parceiros, guerreiros, nos pais que têm sorte, e que nesse dia especial receberão abraços, telefonemas, torpedos, churrascos, conversas, sorrisos ou mesmo um bilhete em letra infantil – como aqueles que tantas vezes, na minha distante infância, deixei no bolso do paletó ou no prato do café-da-manhã de meu pai Arthur.

Thursday, June 12, 2008

HONRAR PAI E MÃE - Ponto de vista - Lya Luft.



"Pais bonzinhos são tão danosos quanto pais
indiferentes: o amor não se compra com presentes,
nem fingindo não saber, desviando o olhar quando
ele devia estar vigilante"


Se as relações familiares não fossem intrinsecamente complicadas, não existiria o mandamento "Honrarás pai e mãe". Comentário de grande sabedoria. Assunto inesgotável. Como educar, como cuidar neste mundo maravilhoso e tresloucado, com tanta sedução e tanta informação – um mundo no qual, sobretudo na juventude, nem sempre há o necessário discernimento para escolher bem?


Saber distinguir o melhor do pior, ser capaz de observar e argumentar, são o melhor legado que família e escola podem dar. Na família, fica abaixo só do afeto e da segurança emocional. Na escola, importa mais do que o acúmulo de informações e o espaço das brincadeiras, num sistema que aprendeu erroneamente que se deve ensinar como se o aluno não tivesse de aprender. Fora disso, meus caros, não há salvação. Isso e professores supervalorizados e bem pagos, escola para todos – não mais milhões de crianças e jovens em casas cujo pátio é barro misturado a esgoto, ou na rua, com o crack e a prostituição. Um ensino que dê muito e exija bastante: ou caímos na farra e no despreparo para a vida, que inclui graves decisões pessoais e um mercado de trabalho cruel.

Bem antes da escola vem o fundamental, o ambiente em casa, que marca o indivíduo pelo resto de sua jornada. Se esse ambiente for positivo, amoroso, a criança acreditará que amor e harmonia são possíveis, que ela pode ter e construir isso, e fará nesse sentido suas futuras escolhas pessoais. Se o clima for de ressentimento, frieza, mágoas ocultas e desejos negativos, o chão por onde o indivíduo vai caminhar será esburacado. Mais irá tropeçar, mais irá quebrar a cara e escolher para si mesmo o pior.

Dificuldades familiares não têm a ver só com o natural conflito de gerações, mas também com a atitude geral dos pais. Eles têm entre si uma relação de lealdade, carinho, alegria? São realmente interessados, tentam assumir suas responsabilidades grandes e difíceis? Foi-se o patriarcado, em que havia regras rígidas. Eu não quereria estar na pele dos infratores de então, os filhos que ousavam discordar. Em lugar da anterior rigidez e distância, estabeleceu-se a alegre bagunça, com mais demonstrações de afeto, mais liberdade, mais respeito pelas individualidades – muitas vezes com resultados dramáticos. Lembro a frase que já escrevi nesta coluna, do psicólogo que me revelou: "A maior parte dos jovens perturbados que atendo não tem em casa pai e mãe, tem um gatão e uma gatinha". Talvez tenham uma mãe que não troca cabeleireiro e academia por horas de afeto com os filhos, ou um pai que corre atrás do dinheiro necessário para manter a família acima de suas possibilidades, por ilusão sua ou desejo de status de uma mulher frívola.

Crianças de 11 anos freqüentam festinhas em que rola o inenarrável: onde estão pai e mãe? Adolescentezinhos rodam de madrugada pelas ruas, dirigindo bêbados ou drogados: onde estão pai e mãe? Quase crianças passam fins de semana em casas de serra e praia reais ou fictícios, com adultos irresponsáveis ou só entre outras crianças, transando precocemente, drogando-se, engravidando, semeando infelicidade, culpa, desorientação pela vida afora. Onde estão os pais?

Ter filho é talvez a maior fonte de alegria, mas também é ser responsável, ah sim! Nisso sou rigorosa e pouco simpática, eu sei. Esse é o dilema fundamental numa sociedade que prega a liberalidade, o "divirta-se", o "cada um na sua", como num pré-apocalipse. Mais grave ainda num momento em que a honradez de figuras públicas (que deveriam ser nossos guias e modelos) é quase uma extravagância. Pais bonzinhos são tão danosos quanto pais indiferentes: o amor não se compra com presentes, nem permitindo tudo, nem fingindo não saber ou não querendo saber, muito menos desviando o olhar quando ele devia estar vigilante. Quem ama cuida: velho princípio inegável, incontornável e imortal, tantas vezes violado.

Thursday, April 10, 2008

Sempre um pouco de nostalgia...






The stuff that dreams are made of
(Carly Simon)

Take a look around now
Change the direction
Adjust the tuning
Try a new translation
Dont look at your man in the same old way
Take a new picture
Just because you dont see shooting stars
Doesnt mean it isnt perfect
Cant you see...

Its the stuff that dreams are made of
Its the slow and steady fire
Its the stuff that dreams are made of
Its your heart and souls desire
Its the stuff that dreams are made of

So whats this about your best friend?
Shes got a brand new shiny boy
And theyre moving out to malibu
To play with all his pretty toys
And you feel closed in by the same four walls
The same old conversation
With the same old guy youve know for years
But use your imagination
And you will see....

Its the stuff that dreams are made of
Its the slow and steady fire
Its the stuff that dreams are made of
Its your heart and souls desire
Its the stuff that dreams are made of

What if the prince on the horse in your fairytale
Is right here in disguise
And what if the stars youve been reaching so high for
Are shining in his eyes

Dont look at yourself in the same old way
Take another picture
Shoot the stars off in your own backyard
Dont look any further
And you will see
Its the stuff that dreams are made of....

Tuesday, April 08, 2008

Chevrolet Cadet - Uma história inacabada...




Terminada a II Guerra mundial, os dirigentes da General Motors, recordando-se da crise que se seguira ao conflito de 1914/18, pensaram em lançar no mercado um automóvel econômico. Uma grande equipe de projetistas, capitaneada por Earl McPherson construiu numerosos protótipos, e a GM preparou um novo estabelecimento industrial perto de Cleveland para produzir o carro em série. Entretanto a demanda por veículos considerados normais permaneceu num nível bastante satisfatório, e a esperada crise não se concretizou. A Chevrolet decidiu então fabricar um carro também totalmente renovado, mas seguindo os cânones tradicionais, e que seria o embrião dos famosos Bel Air, Impala e Caprice.


Quais eram as tais características deste automóvel, denominado Cadet: A utilização pioneira da hoje tão difundida suspensão McPherson, aros de roda de apenas 12 polegadas, e eixo de transmissão em duas partes. Após a embreagem havia um torque tube, que iria estender-se até o centro do assento dianteiro, onde alojava-se o cambio, sendo seguido por um curto cardan até o eixo traseiro. Possuia ainda um motor 6 cilindros de 2200 cilindradas, utilizado posteriormente nos primeiros Holden produzidos na Australia. Seu peso ao redor de 1000 Kg., foi conseguido graças a utilização dos sistema unibody, ou como nós mais conhecemos monobloco.

O preço alvo do novo veículo deveria situar-se abaixo de 1000 dólares, sendo que os então mais baratos Chevy e Ford tinham preços a partir de 1050 dólares. Como o projeto do veículos consumiu 7 milhões de dólares e a expectativa para que vendesse 300 mil veículos por ano para tornar-se rentável não se mostrasse plausível, o projeto foi sendo morto por inanição. Earl McPherson foi para a Ford, onde em 1951 foi lançado o primeiro Ford Consul, incorporando a simplificada e famosa suspensão. O mesmo lay-out seguiram os Ford Vedette franceses, e que mais tarde viriam a tornar-se os Simca Chambord, porta de entrada da suspensao no Brasil.

A GM americana simplesmente esqueceu o projeto, inclusive destruindo os protótipos em 1968, fazendo seu primeiro uso da “McPherson” apenas em 1980, com os Chevrolet Citation, e que inexplicavelmente também tinham rodas de apenas 13 polegadas, para um carro de mais de uma tonelada, e com tração dianteira.





Mais informações em inglês, podemos conseguir no blog abaixo, que reproduz artigo do excelente Karl Ludvigsen, um repórter que nos anos 70 fez inúmeras reportagens reproduzidas pela revista Quatro Rodas.


http://blog.hemmings.com/index.php/2008/04/06/sia-flashback-the-truth-about-chevys-cashiered-cadet/



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Tuesday, March 25, 2008

O silencio...


Há pessoas silenciosas que são muito mais interessantes que os melhores oradores.
Benjamin Disraeli

O silêncio é um espião.
Mário Quintana

A necessidade cada vez mais aguda de ruído só se explica pela necessidade de sufocar alguma coisa.
K. Lorenz

O silêncio que aceita o mérito como a coisa mais natural do mundo constitui o mais retumbante aplauso.
Ralph Waldo Emerson

Em determinadas situações, o silêncio é a melhor resposta.
Ramalho Campelo

O silêncio é um dos argumentos mais difíceis de refutar.
Josh Billings

O silêncio que ninguém ouviu, foi a primeira coisa que se viu.
Arnaldo Antunes

Poucas pessoas sabem o momento psicologicamente exato de ficarem caladas.

O silêncio é mais eloqüente que as palavras.
Carlile

Fique calado e em segurança; o silêncio nunca o trairá.
O’Reilly

Arrependo-me muitas vezes de ter falado; nunca de ter silenciado.
Ciro

Abençoados os que nada têm a dizer e não se deixam persuadir a dizer.
James Russel Lowell

Muitas coisas não merecem ser ditas e muitas pessoas não merecem que as outras coisas lhe sejam ditas: o resultado é muito silêncio.
Henri de Montherlant

É uma calamidade não possuir bastante espírito para falar bem, nem bastante bom senso para ficar em silêncio.
La Bruyère

Se nos mantivermos calados, pensarão que somos filósofos.

Ele tinha momentos ocasionais de silêncio que tornavam sua conversa um prazer.
Sydney Smith

Saturday, March 08, 2008

Uma "Grande Mulher"

Nós brincamos muito, fazemos piadinhas, damos uma de superiores e de donos do pedaço, porém, sem elas seríamos, perdoe-me a expressão, uns bostas.

A Danielle deveria ter sido a presidente de todos os franceses.

Texto de Danielle Miterrand,esposa do ex-presidente François Miterrand, ao povo francês, após ter recebido críticas impiedosas por ter permitido a presença da amante do marido e de sua filha, Mazarine,na cerimônia fúnebre.





"Antes de mais nada devo deixar claro que não é um pedido de desculpas.Muito menos um enunciado de justificativas vãs,comum aos covardes ou àqueles que vivem preocupados em excesso com a opinião dos outros.

Aos 71 anos, vivendo a hora do balanço de uma existência que é um sulco bem traçado e profundo, já não mais preciso, e nem devo, correr atrás de possíveis enganos.

Vivo o momento em que as sombras já esclarecem e que as usências são lindas expressões de perenidade e criação.

Sombras e ausências podem ser tudo,ao passo que luzes e presenças confundem os mais precipitados,os mais jovens.

Vivi com François 51 anos;estive com ele em muito desse tempo e me coloquei sempre.Há mulheres que não se colocam,embora estejam; que não se situam embora componham o cenário da situação resumível Uma vida de altos e baixos.

Na época da Resistência nunca sabíamos onde iríamos passar a noite - se na cama, na prisão, nos bosques ou estendidos por toda a eternidade.uando se vive assim em comum, cria-se uma solda e a consciência de que é preciso viver depressa. Concentrar talvez seja a palavra. Por isso tentei entendê-lo, relacionar-me com sua complexidade,com as variações de sua pessoa e não de seu caráter...Quem entende ou, pelo menos luta para compreender as variações do outro,o ama realmente.E nunca poderá dizer que foi enganada ou que jamais enganou.Não nos enganamos, nos confundimos quando nos perdemos da identidade vital do parceiro,familiar ou irmão.Ou jamais os conhecemos, o eu também,não é um engano.Quem não conhece, não tem enganos.Nas variações do outro, não cabe o apaziguador tudo antes do tempo em forma de tranqüilidade.Uma relação a dois não deve ser apaziguada, mas vibrante, apaixonada, e não, enfastiada.

Nessa complexidade vi que meu marido era tão meu amante quanto da política.Vi, também, que como um homem sensível poderia se enamorar,se encantar com outras pessoas, sem deixar de me mar.

Achar que somos feitos para um único e fiel amor é hipocrisia, conformismo. É preciso admitir docemente que um ser humano é capaz de amar apaixonadamente alguém e depois,com o passar dos anos, amar de forma diferente.

Não somos o centro amorável do mundo do outro. É preciso aceitar,também, outros amores que passam a fazer parte desse amor como mais uma gota d'água que se incorpora ao nosso lago.

Simone de Beauvoir (*)dizia bem, que temos amores necessários e amores contingentes ao longo da vida.

Aceitei a filha de meu marido e hoje recebo mensagens do mundo inteiro de filhos angustiados que me dizem: - "Obrigado por ter aberto um caminho. Meu pai vai morrer, mas eu não poderia ir ao enterro porque a mulher dele não aceitava.

É preciso viver sem mesquinhez, sem um sentido pequeno,lamacento, comum aos moralistas, aos caluniadores aos paranóicos azedos que teimam em sujar tudo.

Espero que as pessoas sejam generosas e amplas para compreender e amar seus parceiros em suas dúvidas,fragilidades, divisões e pequenas paixões.

Isso é amar por inteiro e ter confiança em si mesmo" .

Deus não prometeu Dias sem Dor; Risos sem Sofrimentos; Sol sem Chuva. Ele prometeu Força para o Dia; Conforto para as Lágrimas e Luz para o Caminho..."






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