Saturday, December 08, 2007

As sombras do passado - Rosane na "veja"




Ninguém assistiu à ascensão e queda do ex-presidente Fernando Collor de uma posição mais privilegiada que a de Rosane Malta Collor. Nascida em Canapi, no sertão alagoano, Rosane casou-se com Collor aos 19 anos de idade, quando ele ainda era um inexpressivo deputado federal por Alagoas. Collor, como se sabe, elegeu-se governador do estado e, três anos depois, atingiu o ápice da carreira de qualquer político – a Presidência da República. Rosane estava ao lado de Collor quando ele subiu a rampa do Palácio do Planalto e, quase três anos depois, também o acompanhava, de mãos dadas, quando ele deixou o governo e entrou para a história como o primeiro presidente a sofrer um processo de impeachment. Rosane Collor nunca contou publicamente o que testemunhou então. Na semana passada, quinze anos depois, ela rompeu o silêncio. Separada de Collor há três anos, não se sente mais obrigada a ocultar segredos dos tempos de primeira-dama. Em entrevista a VEJA, ela conta detalhes dos momentos mais tensos do governo do marido na ótica de uma ex-esposa. Rosane fala da relação do ex-presidente com o tesoureiro entesourador Paulo César Farias, o PC, conta como ele reagiu às denúncias do irmão, diz que teve medo de Collor tentar o suicídio e detalha as incursões do primeiro-casal no terreno da magia negra. O depoimento de Rosane revela ainda um lado desconhecido da personalidade do ex-presidente: ciumento, ele mantinha a esposa sob permanente vigilância e, certa vez, chegou a acusá-la de manter um caso extraconjugal. Não eram raras as situações em que, contrariado, tinha explosões de fúria que levaram a mulher a suspeitar de que alguma coisa pudesse estar interferindo em seu comportamento. O casal ficou três meses separado durante a Presidência. Rosane Collor só se nega a falar, por enquanto, de um assunto: o destino dos milhões de dólares que a parceria entre o hoje senador Fernando Collor e PC Farias teria produzido.

Veja – A saída do presidente Collor e da senhora do Palácio do Planalto, há quinze anos, foi o maior desafio institucional enfrentado pelo país desde a volta à democracia. Como foram os minutos que antecederam aquele momento?
Rosane – Quando a Câmara dos Deputados votou o impeachment, eu estava na Casa da Dinda. Fernando pediu para ficar sozinho no gabinete presidencial. Não queria ninguém na sala dele. Ele me ligava a cada minuto, a cada voto. Dizia: "Quinha, esse cara jantou aí em casa, falou que votaria contra e acaba de votar a favor". No último voto, quando viu que não havia mais jeito, ele me disse: "Está perdido". Pedi para ele ter calma e não fazer nenhuma besteira. Em seguida, determinei a um assessor que não o deixassem só e que o trouxessem para casa.
Veja – O que ele lhe disse quando chegou em casa?
Rosane – Fernando desceu do helicóptero, beijou meu rosto e começou a chorar. Passamos uma noite terrível. Dormimos apenas uma hora. Ele estava destruído. Dois dias depois, voamos até o Palácio do Planalto para a cerimônia oficial da saída da Presidência. Havia manifestantes vaiando e gritando palavrões horríveis. O cerimonial ficou com medo de que arremessassem ovos e tomates. Queriam que saíssemos pelos fundos. Queriam humilhá-lo mais ainda.


Veja – O presidente e a senhora embarcaram em um helicóptero e foram para a Casa da Dinda. O que conversaram nesse trajeto?
Rosane – Fernando me disse que tinha um último desejo. Queria ver uma escola que estava sendo construída nas proximidades da Casa da Dinda. Estávamos sentados no banco de trás do helicóptero. Fernando fez esse pedido. Sem nem consultar o piloto, o ajudante pediu desculpas e informou que não havia gasolina. Fernando chorou. Foi o momento em que ele teve consciência de que não era mais presidente da República.

Veja – Entre a saída do Planalto, em setembro de 1992, e a renúncia ao mandato, em dezembro do mesmo ano, passaram-se três meses. Como foi esse período?
Rosane – Trocamos a noite pelo dia. Dormíamos às 6 horas da manhã e acordávamos à 1 da tarde. Fernando passou esse tempo todo trabalhando em sua defesa. Não saíamos de casa. Passamos a tomar remédios para dormir. Ele perdeu 14 quilos e eu, 10. Também comecei a temer pela vida dele.


Veja – Como assim? O presidente pensou em se suicidar?
Rosane – Fiquei com muito medo de que isso pudesse acontecer. Fernando era muito forte, mas ficou arrasado. Quando ele se levantava para ir ao banheiro, eu ia atrás. Tinha medo de que ele fizesse uma besteira. Havia duas ou três armas em casa. Mandei esconder tudo.


Veja – Qual foi o momento mais difícil?
Rosane – Foi quando o Pedro Collor fez as denúncias contra a gente. Além do caráter político, havia uma questão familiar muito importante em jogo. A mãe do Fernando, dona Leda Collor, morreu por causa disso. Dona Leda tinha pressão alta e tomava remédios controlados.


Veja – Pedro Collor desconfiava que o presidente assediava sua mulher, Thereza. A senhora acha que foi essa a razão que o levou a denunciar o irmão?
Rosane – Não acredito nisso. Eles se desentendiam desde que nasceram. Pedro, assim como Fernando, tinha um temperamento muito forte. Eles simplesmente não conseguiam conviver. Não lembro de um Natal que Fernando tenha passado com a família dele em 21 anos de casamento. Além disso, o Paulo César Farias montou um jornal em Maceió para concorrer com o jornal que pertencia à família do Fernando e era dirigido pelo irmão. Isso deixou o Pedro irado. Ele achava que o Fernando estava por trás do jornal do Paulo César.Veja – E não estava?
Rosane – Estava. Algumas vezes o Fernando queria colocar uma matéria no jornal e o Pedro não permitia. Ele tinha inveja do irmão.


Veja – A senhora e o presidente passaram um período rompidos durante o governo. Collor inclusive fez questão de aparecer em público sem aliança. O que ocorreu?
Rosane – Aconteceram duas coisas ao mesmo tempo. Fernando passou a reclamar do meu trabalho na Legião Brasileira de Assistência (LBA). Aos 25 anos, comecei a chamar a atenção da mídia. Os artistas gostavam de mim, e dele, não. Ele começou a ter muito ciúme. Ficou maluco quando publicaram uma foto minha de biquíni. Ele era tão ciumento que me ensinou a cumprimentar as pessoas com o braço firme e esticado, para evitar que alguém tentasse beijar o meu rosto.


Veja – O presidente, então, nunca desconfiou que a senhora mantinha um relacionamento extraconjugal?
Rosane – Num certo dia, ele chegou em casa à noite e me disse que havia uma fita na qual eu aparecia falando com um rapaz. Lidei com esse problema com a verdade. A tal fita nunca apareceu. Não havia condições práticas de eu manter um caso extraconjugal. Eu era vigiada 24 horas. Talvez por um minuto isso tenha passado na cabeça dele. Não mais que isso. Mas não foi por esse motivo que ele tirou a aliança. A razão principal foi mesmo o meu trabalho na LBA. Ele queria que eu cuidasse mais da casa. Por isso, passamos três meses separados.


Veja – Logo depois da separação, a senhora teve de deixar a presidência da LBA sob denúncias de corrupção. Foi coincidência?
Rosane – Um dia, ao chegar para trabalhar, encontrei a minha sala de trabalho arrombada. Reviraram todo o gabinete. Até hoje não sei se alguém entrou lá cumprindo ordens do presidente da República. Fui absolvida de todas aquelas acusações.


Veja – A senhora disse que o presidente era muito ciumento. Ele a agrediu fisicamente alguma vez?
Rosane – Não, mas já quebrou uma mesa de madeira após uma discussão. Às vezes nem era só por ciúme. Ele tinha muita raiva do que saía na imprensa. Quando soube que VEJA publicaria a matéria com as denúncias do Pedro Collor, ele deu murros na parede e derrubou tudo o que havia sobre a sua mesa de trabalho. Disse todos os palavrões possíveis. Falou que iria se vingar e que o Pedro pagaria por aquilo.


Veja – Collor sempre se declarou um católico praticante. Mas eram fortes os rumores de que ele freqüentava terreiros de macumba. Isso chegou a acontecer?
Rosane – Aconteceu. Eu e Fernando de fato participamos de trabalhos espirituais. Alguns chegaram a ocorrer na Casa da Dinda, mas eu não gostava muito. Pedi para acabar com isso lá em casa. Aí os trabalhos começaram a ser feitos numa casa vizinha, cedida por um amigo.


Veja – Com que freqüência isso ocorria?
Rosane – Não lembro. Mas recordo que isso se intensificou no último ano de governo, quando começamos a ter mais dificuldades em Brasília.


Veja – Havia sacrifício de animais?
Rosane – Sim.

Veja – O presidente participava?
Rosane – Sim. Mas era uma coisa horrível. Nem gosto de lembrar.


Veja – A senhora chegou a freqüentar essa casa?
Rosane – Fui lá algumas vezes. Eu não gostava de assistir ao sacrifício de animais. Passava mal sempre que via sangue.Veja – Como vocês faziam para freqüentar esses cultos sem chamar atenção?
Rosane – Era sempre de madrugada.


Veja – Qual era o objetivo desses rituais?
Rosane – Fernando pedia proteção. Pedia que todo mal que alguém lhe desejasse voltasse para a pessoa que o estava amaldiçoando.


Veja – O presidente tinha mania de perseguição?
Rosane – Ele achava que sempre havia alguém querendo prejudicá-lo. Tinha muita raiva da imprensa.


Veja – É verdade que o presidente era usuário de drogas?
Rosane – Ele nunca fez nada na minha frente. Mas houve uma época em que todo mundo só falava disso. Até as minhas amigas começaram a me perguntar. Fernando apresentava alterações de humor muito bruscas. Às vezes, quando ficava bravo, ele dava socos e batia com a cabeça na parede. Uma vez ele quebrou a porta da casa da mãe por causa de um acesso de raiva. Passei a ficar desconfiada. Perguntei-lhe algumas vezes se usava drogas. Ele sempre me disse que não. Como ele gostava muito de beber, achei que poderia ser efeito da bebida.


Veja – Como era sua rotina como primeira-dama?
Rosane – Havia um lado glamouroso que era maravilhoso. Conheci príncipes e princesas, reis e rainhas, viajei pelo mundo e convivi com gente que jamais imaginaria, como a princesa Diana e a Barbara Bush. Mas também havia um lado muito difícil.


Veja – Qual é o sabor do poder?
Rosane – Ter dinheiro não é a mesma coisa que ter poder. Todo o dinheiro do mundo não poderia comprar um jantar com a princesa Diana. Eu já fui recebida em jantar por ela. Na Espanha, fomos hóspedes do rei Juan Carlos, esse que acabou de mandar Hugo Chávez calar a boca. Nos Estados Unidos, fomos hóspedes do George e da Barbara Bush. Ela sempre me mandava cartas e chegou a me enviar um livro que fez para o seu cachorrinho. Ela tinha um carinho especial por mim.


Veja – Foi muito difícil voltar a levar uma vida normal depois do impeachment?
Rosane – Conseguimos dar a volta por cima. Em Miami, pudemos levar uma vida normal. Eu e Fernando dirigíamos o próprio carro. Jogávamos tênis, estudávamos inglês, almoçávamos juntos e viajávamos bastante. Ele montou um escritório num prédio luxuoso, onde costumava passar as tardes.


Veja – Qual era, afinal, a relação entre Collor e Paulo César Farias, o PC Farias?
Rosane – Paulo César era homem de confiança do Fernando. Era ele quem cuidava de todas as questões financeiras. Ninguém entrega a tarefa de arrecadar dinheiro para sua campanha a alguém em quem não confia. Mas isso não significa que ele vivia na minha casa. Não convivíamos. Era uma relação profissional.


Veja – Collor sempre garantiu que nunca mais voltou a ver o tesoureiro PC Farias depois de tomar posse como presidente. Isso é verdade?
Rosane – Ele e Paulo César tomaram café-da-manhã juntos algumas vezes na Casa da Dinda depois da posse. Também se encontraram várias vezes fora dali.


Veja – Durante o governo Collor, uma frase de PC Farias que ficou famosa dizia o seguinte: "Madame está gastando demais". Quando a senhora descobriu que PC Farias pagava despesas pessoais da senhora e de sua família?
Rosane – Fiquei sabendo disso pelo noticiário. Eu não sabia nem o que era fantasma. É muito difícil saber que até o seu dentista é pago por outra pessoa. Fernando me dizia que nada do que estavam falando era verdade. Tudo o que eu queria o meu marido me dava. Para mim, até então, o dinheiro era dele. Ele era muito fechado sobre a relação que mantinha com o Paulo César.


Veja – Como o presidente reagiu à notícia da morte de PC Farias?
Rosane – Estávamos no Taiti. Primeiro, ele ficou chocado. Depois, ficou com muito medo de ser acusado de ter mandado assassinar o Paulo César.

Veja – Por que vocês não foram ao enterro dele?
Rosane – Nessa época, eles já tinham pouco contato. Lembro apenas de ele ter ligado para um dos irmãos se solidarizando.


Veja – A prisão de PC Farias na Tailândia deixou o presidente preocupado?
Rosane – Ficou apreensivo.


Veja – A senhora acha que Collor errou ao receber dinheiro de PC Farias?
Rosane – Eu nunca soube exatamente que tipo de acordo regulava as relações financeiras entre Fernando e Paulo César.


Veja – A senhora, então, achava que o presidente era um homem muito rico?
Rosane – Sempre achei que o Fernando fosse rico. Quando moramos em Miami, ele me deu um Porsche de presente. Tínhamos uns dez cartões de crédito. Também guardávamos dinheiro em um cofre da casa. Quando voltamos ao Brasil, continuamos vivendo maravilhosamente bem. A minha mesada era de 40 000 reais. Passávamos o réveillon em Angra dos Reis com ilha alugada, com segurança, mordomo e até helicóptero. Também costumávamos esquiar em Aspen. Com a nossa separação, em 2005, descobri que Fernando tem uma renda mensal declarada de 25 800 reais.


Veja – Entre o impeachment, em 1992, e a sua eleição para o Senado, no ano passado, o ex-presidente praticamente não trabalhou. Como ele bancava seus gastos pessoais com uma renda de 25 800 reais?
Rosane – Não posso falar sobre isso.


Veja – Estima-se que a parceria entre PC Farias e o ex-presidente tenha deixado um saldo de 60 milhões de dólares em contas secretas no exterior. A senhora tem alguma idéia de onde foi parar esse dinheiro?
Rosane – Não posso falar sobre isso.


Veja – A senhora acredita que o presidente tenha contas secretas no exterior?
Rosane – Não posso falar sobre isso.


Veja – A senhora não pode responder porque não sabe ou porque tem medo de sofrer alguma retaliação?
Rosane – Não posso falar sobre isso.

Sunday, December 02, 2007

Amor demais estraga - Veja 1805-04/06/2003



O psiquiatra Içami Tiba diz que os pais precisam ser duros para manter os filhos longe das drogas

Quando o assunto é o consumo de drogas entre os jovens, o psiquiatra paulista Içami Tiba, de 62 anos, não tem meias palavras. No livro Anjos Caídos, ele descreve uma dezena de disfarces, sete comportamentos suspeitos e mais de vinte respostas que jovens usam para convencer adultos de que não fumam maconha. Esse estilo direto às vezes pode render dissabores. Tiba está sendo processado por ter qualificado o campus da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo como um "antro de maconha", em uma entrevista. Ele não volta atrás no que disse e acredita que falam a seu favor 34 anos de profissão, 70 000 atendimentos psicoterápicos e 2 500 palestras mundo afora, além de catorze livros, com 600 000 exemplares vendidos. O último – Quem Ama, Educa! (Editora Gente) – está na 31ª edição.

Tiba aplicou suas teorias na criação de três filhos, um advogado, uma psicóloga e uma estudante de direito. Nesta entrevista, ele dá sua receita para o sucesso na educação das crianças. Isso inclui, ele adverte, evitar manifestações de "amor em excesso".

Veja – O senhor está sendo processado por ter dito que a PUC paulista é um "antro de maconha"...
Tiba – É verdade. Reconheço que se trata de uma respeitável instituição científica, mas não posso concordar com a filosofia de não reprimir o uso de drogas que vigora lá. Há, sim, uma cultura de fumar maconha nos corredores do campus, como se fosse a coisa mais comum do mundo. Eu mesmo testemunhei isso, pois fui professor lá durante quinze anos. Além disso, tenho pacientes que estudam lá e dizem o mesmo. Como médico, não posso falsear esse diagnóstico.

Veja – O episódio da estudante baleada numa universidade carioca tem relação com a penetração das drogas nas escolas?
Tiba – Os traficantes descobriram que a melhor maneira de disseminar a droga na sociedade é através da escola. Dali o jovem a leva para dentro da família e para o grupo de amigos. As escolas de ensino médio, sobretudo, tornaram-se um ótimo mercado. O traficante nem se expõe. Em praticamente todas há os minitraficantes, pessoas que se infiltram no meio dos alunos a serviço dos grandes. Às vezes são recrutados entre os próprios estudantes e recebem mais de 800 reais por mês. Há também muitos microtraficantes, alunos que pegam dinheiro dos colegas para comprar a droga e depois a distribuem. Não é preciso subir no morro nem ir à boca-de-fumo. A droga pode ser adquirida logo ali, na barraquinha ao lado da escola.

Veja – Muitos pais que experimentaram maconha são tolerantes com os filhos que repetem essa experiência porque não acreditam que ela seja porta de entrada para drogas mais pesadas.
Tiba – Na minha interpretação, ela é, sim, porta de entrada para drogas mais pesadas. Mas a porta para o vício é mesmo o álcool. A primeira coisa que o álcool faz na pessoa é diluir seu superego, instância da personalidade que agrega, entre outros, os padrões comportamentais. A partir daí, o indivíduo faz apenas coisas de que tem vontade e não o que aprendeu que deve ser feito. Tem extrema dificuldade para fazer a coisa certa. Esbarrou, já quer brigar, não agüenta desaforos, fica violento. O jovem que já estava pensando em experimentar maconha, e não tinha coragem, quando ingere bebidas alcoólicas vai provar, pois aquele freio foi destruído pelo álcool. Como a maconha despersonaliza a pessoa, daí para a cocaína é um passo.

Veja – Mas o que devem fazer pais que provaram maconha e não se viciaram? Há os que fumam com os filhos e há os que proíbem.
Tiba – Fumar com eles, nem pensar. Senão depois vão jogar na cara dos pais que se viciaram por culpa deles. Os pais têm de falar que são contra, que tiveram sorte de não ter se viciado. Quando possível, citar exemplos de conhecidos que se prejudicaram muito, ou até morreram, por causa da droga. É preciso ser duro e proibir. A proibição pode não evitar que eles fumem, mas saberão que estão agindo contra a vontade dos pais. Quanto a estes, pessoas que no passado fumaram maconha e se deram bem na vida em geral não deixaram que a droga atrapalhasse a vida delas. São comparáveis a pilotos de Fórmula 1 que não morreram, apesar do risco que correm nas pistas. Paulo Coelho, Bill Clinton e Fernando Henrique Cardoso, que admitem ter experimentado maconha, tornaram-se pessoas bem-sucedidas, mas são sobreviventes, assim como quem pratica esportes perigosos e não morre. Por outro lado, há quarenta anos, fumar maconha não era o objetivo em si. Fumava-se maconha e se queimavam sutiãs como forma de transgressão. Hoje, o uso da maconha é totalmente diferente. A maconha não é mais bandeira de coisa alguma. É comum ouvir papo furado do tipo "Fumo maconha porque sou livre". Está errado, pois quem é livre não precisa usar drogas.

Veja – O senhor é a favor da descriminação da maconha?
Tiba – Não. O Brasil não está preparado para uma medida tão radical. Não sou a favor de ficar prendendo usuários, mas também não sou a favor de liberar geral, pois, se os caras estão se perdendo com cerveja, imagine com maconha.



Veja – Por que o senhor diz que amor em excesso pode gerar filhos drogados?
Tiba – O amor sem limites deixa que se desenvolva demais o lado animal e instintivo do jovem, que passa a fazer apenas aquilo de que tem vontade. Para esse jovem, o que interessa é o prazer. A maioria dos pais faz de tudo para agradar aos filhos e eles aprendem a ter prazer sem fazer nenhum esforço. Aí, quando vão para a rua, logo encontram quem lhes ofereça um baseado, uma dose de prazer.

Veja – Quando os pais devem começar a desconfiar que o filho está usando drogas?
Tiba – A maioria só desconfia quando a performance do filho na escola piora. Aí, pode ser tarde demais, pois o rendimento escolar é uma das últimas máscaras a cair. Antes, já caiu a ética relacional, que se traduz na falta de respeito às pessoas. Há também uma diminuição do afeto. Antes, ele se mobilizava para ajudar os pais a resolver pequenos problemas, ficava preocupado quando a mãe tinha uma dor de cabeça. Depois, o mundo pode desabar que ele não está nem aí, como se fosse um pensionista da casa.

Veja – Como identificar os primeiros sinais dessa situação?
Tiba – Além do comportamento suspeito que já citei, há outros disfarces fáceis de ser percebidos. Em geral, usar incenso, perfumar o ambiente ou deixar o chuveiro ou o ventilador ligados o tempo todo são estratégias para acabar com a marofa, a fumaça da maconha. Deve-se prestar atenção também na fala dos filhos. Se o garoto começa a se preocupar muito com os horários de saída e chegada dos pais, é outro sinal de que pode estar aprontando alguma. É suspeito ainda quando o jovem diz que "todo mundo está usando maconha", numa tentativa de minimizar o problema. Na verdade, isso significa que ele está andando com usuários. Quando o jovem começa a dizer que maconha faz menos mal que outras drogas, então é porque já se tornou, ele próprio, um usuário. Ninguém defende o que não lhe interessa.

Veja – É possível blindar os filhos contra as drogas?
Tiba – A melhor proteção é criar condições para que ele tenha auto-estima e, desde cedo, informá-lo sobre os malefícios das drogas. Os pais não têm como controlar a vida do adolescente, mas devem patrulhar o filho quando houver motivo para desconfianças. O jovem se fechar no quarto, por exemplo, é natural. Está querendo privacidade. Mas, se tranca a porta, está colocando os pais para fora da vida dele. Privacidade a chave é expulsão dos outros. Isso os pais não podem permitir.

Veja – Em seu último livro, o senhor afirma que educar é diferente de criar. Qual a diferença?
Tiba – Os pais que educam têm como foco preparar os filhos para a vida. Os que criam acham que resolvem os problemas para eles. A maioria dos pais demora para fazer os filhos assumir responsabilidades. Por isso, é comum encontrar jovens que, apesar de bem-criados e bem nutridos, são mal-educados. São adolescentes que diante de qualquer situação adversa desistem ou partem para a ignorância.

Veja – Que valores os pais devem inculcar nos filhos?
Tiba – Os principais são disciplina, gratidão, religiosidade, cidadania e ética. Por exemplo, quando o pai dá um presente ou mesmo um bombom ao filho e ele sai correndo sem dizer um "obrigado", ou o diz sem olhar nos olhos, não vale. Tem de ser incisivo: "Filho, olhe nos meus olhos e agradeça". Assim mesmo, na bucha. Essa postura de cobrança pelos mínimos bons costumes, se for constante, vai surtir um efeito para a vida inteira.

Veja – O bom exemplo dos pais influencia também na formação ética?


Tiba – A maneira como o filho trata uma empregada é uma cópia fiel da forma como seus pais a tratam. Se o pai ou a mãe fala "Vamos rezar" e quando sai da igreja já xinga um transeunte, dá o direito de o filho questionar: "Então a espiritualidade só vale dentro da igreja?". Não adiantam apenas exemplos de boa conduta. Muitas vezes, o filho joga algo no chão e o pai pega, achando que está sendo exemplar. Está errado, pois o que o pai tem de fazer é obrigar o filho a pegar. De outro modo, ele vai achar-se no direito de jogar papel no chão da escola e não apanhar. Afinal, essa função é da faxineira.

Veja – O que o senhor entende por religiosidade é freqüentar igreja?
Tiba – É um sentimento instintivo do ser humano, que precede as religiões. Significa gente gostar de gente. Hoje em dia se valoriza muito pouco o respeito ao outro, independentemente do credo. Quando o filho maltrata o pai e este engole o mau trato sem reagir, dá uma grande lição de não-religiosidade. Quando o filho quebra um copo num momento de raiva, é comum o pai dizer: "Eu sei que você não fez por querer". Ao invés de poupá-lo e tirar a culpa do filho, o certo é fazer com que ele arque com as conseqüências de seu ato.

Veja – Adianta castigar ou cortar a mesada?
Tiba – Mais do que cortar a mesada, o importante é fazê-lo repor o que quebrou. Tirar dinheiro é muito fácil. O filho tem de se dar ao trabalho de comprar um copo igual no lugar do próximo brinquedo, por exemplo. É uma forma de chamá-lo a assumir a conseqüência pelo ato praticado. Castigo não resolve coisa alguma. Se aqueles rapazes de Brasília que queimaram o índio Galdino, em vez de presos, tivessem sido condenados a trabalhar durante um ano na seção de queimados de um hospital, o efeito pedagógico seria muito melhor. Na cadeia, até gozam de certas mordomias. Não devem ter aprendido nada lá.

Veja – Têm-se visto muitos casos de atrocidades cometidas por jovens de classe média, como alguns que mataram os pais. O que são esses casos?


Tiba – Quando um filho chega ao ponto de atentar contra a vida dos pais, o respeito já se perdeu faz tempo. Ninguém que ama mata assim de repente, por impulso. Essa tese é desculpa de advogado. A situação já estava complicada. Tanto que aquele pai que matou o filho em São Paulo, há dois meses, alegou legítima defesa e obteve o apoio da família. Imagine, nem a mãe lamentou que o pai tenha matado o filho! O rapaz já estava em um estágio tão ruim que seu pai se viu em um triste dilema: era matar ou morrer. Boa parte da culpa nesses casos é dos pais, que, incompetentes para dar uma boa educação, tentam compensar arcando com as conseqüências das besteiras cometidas pelos filhos.

Veja – Nesses casos, dá para dizer que a droga foi o principal combustível?


Tiba – Há uma corrente, com a qual eu não concordo, que defende que a droga apenas desperta o assassino que a pessoa tem dentro de si. Eu acho que não é assim. Quando começam a usar drogas, as pessoas perdem a ética. Depois, têm a afetividade alterada, piora o rendimento escolar e, só aí, o organismo começa a ser atingido. Os bons princípios são devastados bem antes pelas drogas, e a pessoa passa a pensar que pode tudo. Poder sem ética vira violência.

Veja – As teorias que o senhor prega foram colocadas em prática na educação de seus filhos?
Tiba – Meus filhos não funcionaram como laboratório nem cobaia para minhas teorias, mas eu e minha esposa nos empenhamos bastante para torná-los capazes de enfrentar bem a vida. Em casa, nunca entregamos nada pronto para eles. Nosso lema sempre foi: "Quem sabe fazer aprendeu fazendo". Criamos uma espécie de contrato de conseqüência, ou seja: se produziam ou agiam bem, eram recompensados pelo esforço feito. Se não, sofriam a conseqüência.

Veja – O senhor os colocava de castigo? Batia neles?
Tiba – Não os castigava. Eu os ensinei a arcar com o ônus e o bônus de seus atos. Também nunca bati, mas, às vezes, quando algum fazia muita birra, eu dava uns gritões na orelha dele e estabelecia um prazo para ele mudar de idéia.

Saturday, December 01, 2007

Josef Ganz - Um ilustre desconhecido


Aquela velha historia, de que foi Ferdinand Porsche, que projetou o “Volkswagen”, a cada dia é mais contestada. Alem do caso Hans Ledwinka/Tatra, agora temos a publicação de uma biografia de Josef Ganz, projetista de origem judaica, responsavel pelos projetos do Bungartz Butz, bem como do Standard Superior. Este último, foi o primeiro carro, onde a expressão “Volkswagen” teve o seu batismo. Era equipado com motor bicilindrico “dois tempos” refrigerado a agua, com opçao de 400cc/12 hp, ou 500cc/16 hp., localizado tambem na traseira, em conjunto com o cambio. O chassis utilizava o sistema já em voga na Tatra, com uso de um tubo central, onde era soldada a plataforma e suspensões. As dimensões gerais do carro eram de 3,30 m.x 1,40, com distancia entre eixos de 2,00 m. Utilizava pneus aro 26 x 3,5. Apesar do contido peso de apenas 490 kg., conseguia a proeza de carregar 2 passageiros adultos e 2 crianças, padrão mínimo, e altamente aceitavel para a época. Suas linhas eram extremamente aerodinamicas, sendo contemporaneas as do famoso Chrysler Airflow.

Josef Ganz, alem de projetista, era também renomado jornalista do periódico Motor-Kritik. Suas atividades foram alvo de perseguições por parte do regime nazista então vigente, tendo o mesmo se exilado primeiramente na Suiça, e posteriormente na Austrália, onde exerceu atividades na Holden. Desapareceu incógnito em 1967.

Informações adicionais, e fotos de outros protótipos, podem ser consultadas no link abaixo, em polonês:
http://pollak-presse.tatraportal.sk/Automobilia/Ganz%20konstrukter%20VW.pdf

Sunday, November 25, 2007

Ato de fé

O que penso:
Ensinar e aprender.Duas faces de uma mesma moeda.
Troca de conhecimentos, de experiências, de sentimentos.
Conviver para trocar, interagir, enriquecer-se mutuamente. É assim que vejo e sinto minha vida de professor, na qual ensino e aprendo diariamente. E isso me entusiasma, me faz crer e ter esperança, nas pessoas, em nosso país,pois estamos sempre construindo a nossa identidade e também a deste país. É uma obra aberta, que cada dia recebe um acréscimo que se torna visível a medida que as dificuldades e injustiças diminuem e a educação muda a face de tudo.
Esta esperança muito forte tem suas raízes na minha família de imigrantes alemães, que atravessaram mares por acreditarem numa vida melhor.
Ensinar este idioma, o alemão, estereotipasdo como uma lingua fria e difícil significa também desconstruir preconceitos, abrir portas para a literatura e culturas alemãs,construir, pois, pontes entre culturas. Tudo isto num contexto maior, o da Educação deste páis, onde a diversidade dá o tom.
Fazer parte deste fundamental trabalho de construção pela Educação me enche de orgulho e alegria, que tento passar para cada aluno, cada dia, alunos agora professores de idiomas, meus colegas.
Passo a eles ,agora, as palavras de uma antiga canção alemã - já que sempre cantamos em nossas aulas- que minha mãe me ensinou e que fala da alegria de colher os bons e belos frutos da vida e de aceitar, com sabedoria, os revezes e sofrimentos.

"Freut euch des Lebens
Solange das Lämpchen glüht,
Pflücket die Rose,
Bevor sie verblüht.

Ein Herz, as sich mit Sorgen quält
Hat selten frohe Stunden
Drum glücklich ist, wer vergisst
Was einmal nicht zu ändern ist"

Alegrem-se com a vida
Enquanro a lamparina estiver acesa
Colham a Rosa
Antes que ela feneça

Um coração cheio de preocupações
Raramente vive horas felizes
Pro isso feliz é aquele
Que esquece o que não pode ser mudado

Spielwerk

Monday, November 12, 2007

Die Geschichte eines Heimatliedes





"Im schönsten Wiesengrunde", dieses Lied ist aus unserem Schatz an Volksliedern nicht wegzudenken, es ist unser Heimatlied. Wann immer die Stimmung einen Höhepunkt erreicht hatte, sei es bei Geburtstagen, Klassenfeiern, Hochzeiten oder sonstigen Zusammenkünften (außer Gemeinderatsitzungen), es fand sich immer irgendjemand, dieses Lied anzustimmen. Uralte Heimatliebe und Romantik wird aus der Versenkung geholt. Was ist aber davon noch übrig geblieben?

Die Hektik des Alltags, die fast ungestillte Lust in fernsten Ländern Eindrücke und Erlebnisse zu sammeln ist "in". Das Medium Fernsehen hilft uns auch noch dabei. Dabei sagen viele, die in die Fremde gingen, dass bei ihnen die Liebe zur Heimat viel ausgeprägter ist, als bei den Dagebliebenen.

Der geniale Geist von Weimar versuchte uns einst zu sagen: "Warum in die Ferne schweifen, sieh das Gute liegt so nah." Vielleicht dachte Wilhelm Ganzhorn genau so, als er im Jahre 1850 sein Gedicht, "Das stille Tal" zu Papier brachte.

Im Gasthaus "Rößle" in Conweiler, in der sog. "Dichterecke", findet man die Quelle des Liedes
"Im schönsten Wiesengrunde."

Hier hat der junge Amtsgerichtsreferendar Wilhelm Ganzhorn dieses Lied niedergeschrieben, als er von Neuenbürg nach Aalen versetzt wurde. Er durchwanderte in Gedanken versunken Schwann und Conweiler, um im Rössle einzukehren, denn das Wirtstöchterlein war seine Braut. Er nächtigte in besagter Dichterecke, und seine Braut fand am nächsten Morgen einen Abschiedsgruß vor, unser Heimatlied. Es sind 13 Verse, man singt jedoch nur die Verse 1,12 und 13. Die Melodie stammt aus der Feder Friedrich Silchers. Am 18.01.1855 heiratete Wilhelm Ganzhorn seine Braut Jacobine Luise Alber in der Kirche zu Feldrennach. Der Wunsch des Dichters, in Tales Grunde begraben zu werden, ging nicht in Erfüllung. Er verstarb 1880 als Oberamtsrichter in Cannstatt. An seinem Grabe erklang sein bereits zum Volkslied gewordenes Lied "Im schönsten Wiesengrunde".

Viele andere Orte mit Wiesentälern wollten sich dieses Lied schon zu eigen machen , doch Ganzhorn antwortete hierauf zu Lebzeiten sehr deutlich, dass es sich unmissverständlich um das Tal hinter dem "Rössle" in Conweiler handelt. Hiermit hat er sich und der Gemeinde Conweiler ein ewiges Denkmal gesetzt.

Im Jahre 2000 fanden sich Förderer, die Ihm zu Ehren eine Büste stifteten, die ihren Platz am Ortseingang von Conweiler aus Richtung Schwann kommend fand.

Hier nun alle 13 Verse des Gedichtes
"Das stille Tal" von Wilhelm Ganzhorn:

1.
Im schönsten Wiesengrunde
ist meiner Heimat Haus.
Da zog ich manche Stunde
ins Tal hinaus.
:Dich mein stilles Tal,
grüß ich tausendmal!
Da zog ich manche Stunde
ins Tal hinaus:

2.
Wie Teppich reich gewoben
steht mir die Flur zur Schau:
O Wunderbild und oben
des Himmels blau.
:Dich, mein stilles Tal:

3.
Herab von sonn´ger Halde
ein frischer Odem zieht;
es klingt aus nahem Walde
der Vögel Lied.
:Dich mein stilles Tal:

4.
Die Blume winkt dem Schäfer
mit Farbenpracht und Duft;
den Falter und den Käfer
zu Tisch sie ruft.
:Dich mein stilles Tal:

5.
Das Bächlein will beleben
den heimlich stillen Ort;
da kommt´s durch Wiesen eben
und murmelt fort.
:Dich mein stilles Tal:

6.
Das blanke Fischlein munter
schwimmt auf und ab im Tanz,
rings strahlen tausend Wunder
im Sonnenglanz.
:Dich mein stilles Tal:

7.
Wie schön der Knospen springen
des Taus Kristall im Licht!
Wollt ich es alles singen;
Ich könnt es nicht.
:Dich mein stilles Tal:

8.
Kommt, kommt der Tisch der Gnaden
winkt reichlich überall;
kommt all seid ihr geladen
ins stille Tal.
:Dich mein stilles Tal:

9.
Wie froh sind da die Gäste,
da ist nicht Leid noch Klag;
da wird zum Friedensfeste
ein jeder Tag.
:Dich, mein stilles Tal:

10.
Wie sieht das Aug so helle
im Buche der Natur!
Der reinsten Freuden Quelle
springt aus der Flur.
:Dich mein stilles Tal:

11.
Hier mag das Herz sich laben
am ew´gen Festaltar;
kommt bringet Opfergaben
mit Jubel dar.
:Dich, mein stilles Tal:

12.
Müßt aus dem Tal jetzt scheiden,
wo alles Lust und Klang,
das wär mein herbstes Leiden,
mein letzter Gang.
Dich, mein stilles Tal,
grüß ich tausendmal.
Das wär mein herbstes Leiden,
mein letzter Gang.

13.
Sterb ich, in Tales Grunde
will ich begraben sein;
singt mir zur letzten Stunde
beim Abendschein.
:Dir, o stilles Tal,
Gruß zum letzten Mal.
Singt mir zur letzten Stunde
beim Abendschein.

Thursday, November 08, 2007

Bergvagabunden - Die Beste

Wenn wir erklimmen sonnige Höhen, klettern dem Gipfelkreuz zu,
In unser'm Herzen brennt eine Sehnsucht, die läßt uns nimmer in Ruh.
Strahlende Berge, sonnige Höhen, Bergvagabunden sind wir, ja wir.
Herrliche Berge, sonnige Höhen, Bergvagabunden sind wir.



Mit Seil und Haken, alles zu wagen, hängen wir in steiler Wand.
Herzen erglühen, Edelweiß blühen, vorwärts mit sicherer Hand.
Strahlende Berge, sonnige Höhen, Bergvagabunden sind wir, ja wir.
Herrliche Berge, sonnige Höhen, Bergvagabunden sind wir.



Fels ist bezwungen, frei atmen Lungen, ach, wie so schön ist die Welt !
Handschlag, ein Lächeln, Mühen vergessen, alles auf's beste bestellt.
Strahlende Berge, sonnige Höhen, Bergvagabunden sind wir, ja wir.
Herrliche Berge, sonnige Höhen, Bergvagabunden sind wir.



Im Alpenglühen heimwärts wir ziehen, Berge, sie leuchten so rot.
Wir kommen wieder, denn wir sind Brüder, Brüder auf Leben und Tod.
Lebt wohl, ihr Berge, sonnige Höhen, denn Vagabunden sind treu, ja treu
Lebt wohl, ihr Berge, sonnige Höhn denn Vagabunden sind treu,



Wenn wir marschieren, durch unser Städtchen, schauen die Mädchen uns zu.
Durch diese Frauen ist nicht zu trauen, rauben unser Herzen die Ruh.

Wer'n endlich g'scheiter, pfeifen auf die Weiber,
Steigen nur dem Hochgebirge zu, ja, zu; zu.
Wer'n endlich g'scheiter, pfeifen auf die Weiber,
Steigen nur dem Hochgebirge zu.



Steinschlag, ein Brausen, weg war die Jausen, und ich werd' fuchsteufelswild;
Denn mit den Augen können wir schauen, was unser Magen verliert, Ja ja.
Strahlende Berge, sonnige Höhen, Bergvagabunden sind wir, ja wir.
Herrliche Berge, sonnige Höhen, Bergvagabunden sind wir.

Tuesday, November 06, 2007

Treue Bergvagabunden

Wenn wir erklimmen schwindelnde Höhen, steigen dem Gipfelkreuz zu,
in unseren Herzen brennt eine Sehnsucht, sie läßt uns nimmermehr in Ruh.


Herrliche Berge, sonnige Höhen, Bergvagabunden sind wir, ja wir.
Herrliche Berge, sonnige Höhen, Bergvagabunden sind wir.


Mit Seil und Hacken den Tod im Nacken, hängen wir an der steilen Wand.
Herzen erglühen, Edelweiß blühen, vorbei geht's mit sicherer Hand.

Herrliche Berge, sonnige Höhen, Bergvagabunden sind wir, ja wir.
Herrliche Berge, sonnige Höhen, Bergvagabunden sind wir.

La Montanara und Fudschijama, Berge sind überall schön.
Gletscher und Sonne, Herzen voll Sonne, herrlich die Sterne zu sehen.

Herrliche Berge, sonnige Höhen, Bergvagabunden sind wir, ja wir.
Herrliche Berge, sonnige Höhen, Bergvagabunden sind wir.

Beim Alpenglühen, heimwärts wir ziehen, Berge die leuchten so rot.
Wir kommen wieder, denn wir sind Brüder, Brüder auf Leben und Tod.

Lebt wohl, ihr Berge, sonnige Höhen, Bergvagabunden sind treu, ja treu.
Lebt wohl ihr Berge, sonnige Höhen, Bergvagabunden sind treu.



Oder so...


Bergvagabunden
Text: Erich Hartinger Musik: Volksweise
Wenn wir erklimmen schwindelnde Höhen, steigen dem Berggipfel zu,
in unsern Herzen brennt eine Sehnsucht, die läßt uns nimmermehr in Ruh.
Herrliche Berge, sonnige Höhen, Bergvagabunden sind wir, ja wir.
Herrliche Berge, sonnige Höhen, Bergvagabunden sind wir.


Mit Seil und Haken alles zu wagen, hängen wir in Steigerwand.
Wolken die Ziehen, Edelweiß blühen, wir klettern mit sicherer Hand.
Herrliche Berge, sonnige Höhen, Bergvagabunden sind wir, ja wir.
Herrliche Berge, sonnige Höhen, Bergvagabunden sind wir.


Fels ist bezwungen, frei atmen Lungen, ach, wie so schöön ist die Welt!
Handschlag, ein Lächeln, Mühen vergessen, alles aufs beste bestellt.
Herrliche Berge, sonnige Höhen, Bergvagabunden sind wir, ja wir.
Herrliche Berge, sonnige Höhen, Bergvagabunden sind wir.


Beim Alpenglühen heimwärts wir ziehen, Berge, die leuchten so rot.
Wir kommen wieder, denn wir sind Brüder, Brüder auf Leben und Tod.
Lebt wohl, ihr Berge, sonnige Höhen, Bergkammeraden sind treu, ja treu.
Lebt wohl, ihr Berge, sonnige Höhen, Bergkammeraden sind treu.

Wednesday, July 25, 2007

EINE GESCHICHTE VOM MAINE KOMPODA PIO RAMBO

IN DE ESCHULE

Das war eine tag wo di lehring di eschuler gefragt habt was des körpes pedaßen der erst in der Himmel entriert.
Da ware di alle ruich, bis zum finalen der kleine Jwonzinhen fon dem fundos des classe der finger gelevantiert habt.
Da sagt di lehring:
- Nach, Jwonzinhen, was is des pedaßen des körpen wo der erst in der Himmel kimmt?
Er antwort:
- di pezinhen!
- Dja wi so di pezinhen Jwonzinhen? Wer habt es dir so geensiniert?
- Niemand! - gerrespondiert er. - Ich habe es persehnlich gesehen.
- Och was? Persehnlich? Explikier es mir dan mal! - Sagt di lehring. Er sagt da:
- Ai gester abend, wi ich am adormecieren war, da habt meine mutter gegritiert: "Ich komme in der Himmel! Ich komme in der Himmel! ... Noch en pouquinhen, komme ich in der Himmel!"
Da bin ich apavoriert gefikiert und sind expiere gegang in die fechadure buraque des zimmer meine elteren. Da sehe ich meine mutter mit der tswai pezinhen esticaden zum Himmel un war das am gritieren. Zum glück habt meine papa auf si in meien seine pernen gelegt und si geseguriert, wenn net, wärt sie com certezen zum himmel gepuxiert gieb!

Wednesday, June 20, 2007

O QUE REALMENTE CONTA... LUZ!!!

O município de São João do Oeste (SC) é o que tem o menor índice de analfabetismo em todo o país, segundo o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. De acordo com os dados, apenas 0,9% da população local não é alfabetizada. É o único município do Brasil com índice menor do que 1% do total de moradores.

A lista divulgada pelo IBGE inclui 64 cidades. Todas, com índices que chegam até 4% da população, receberão do Governo Federal, nesta quarta-feira (20 de junho), o selo de "CIDADE LIVRE DO ANALFABETISMO". A maior parte dos municípios citados fica no Rio Grande do Sul: 40. O restante está em Santa Catarina (16), São Paulo (3), Paraná (3) e Rio de Janeiro (2).




Confira a lista dos municípios brasileiros que têm a menor taxa de analfabetismo de jovens e adultos (pessoas com 15 anos ou mais).

Ordenados por taxa:

UF Município Taxa de analfabetismo (%)
SC São João do Oeste 0,91
RS Morro Reuter 1,60
RS Harmonia 1,79
SC Pomerode 1,87
RS Bom Princípio 1,92
RS São Vendelino 1,94
RS Feliz 1,94
RS Lagoa dos Três Cantos 1,95
RS Salvador das Missões 2,23
RS Ivoti 2,29
PR Quatro Pontes 2,43
RS Vale Real 2,54
SC Timbó 2,60
RS Dois Irmãos 2,64
SC Jaraguá do Sul 2,65
RS São José do Hortêncio 2,69
RS Teutônia 2,71
SC Blumenau 2,79
RS Linha Nova 2,80
RS Nova Petrópolis 2,81
RS Colinas 2,82
RS Presidente Lucena 2,85
RS Arroio do Meio 2,86
RS São José do Inhacorá 2,86
RS Picada Café 2,89
RS Boa Vista do Buricá 2,91
SP Águas de São Pedro 2,94
SP São Caetano do Sul 2,99
SC Balneário Camboriú 3,00
SC Tunápolis 3,04
RS Imigrante 3,08
RS Pareci Novo 3,09
RS Nova Boa Vista 3,18
RS Quinze de Novembro 3,21
RS Chuí 3,21
RS Santa Maria do Herval 3,22
RS Santa Tereza 3,36
SC São Bento do Sul 3,37
PR Curitiba 3,38
SC Joinville 3,41
RS Porto Alegre 3,45
SC Indaial 3,48
RS Victor Graeff 3,53
RS Santo Cristo 3,54
RJ Niterói 3,55
SC Florianópolis 3,56
SP Santos 3,56
RS Estrela 3,56
SC Schroeder 3,59
RS Carlos Barbosa 3,61
RS Caxias do Sul 3,65
PR Entre Rios do Oeste 3,67
RJ Nilópolis 3,76
RS Nova Bassano 3,81
RS Campina das Missões 3,82
RS São Pedro do Butiá 3,82
RS Santa Clara do Sul 3,84
SC Gaspar 3,86
RS Bento Gonçalves 3,89
RS São Pedro da Serra 3,91
RS Esteio 3,91
SC Rio dos Cedros 3,93
SC Brusque 3,93
SC Luzerna 3,96


Em ordem alfabética, a partir dos estados:

UF Município Taxa de analfabetismo (%)
PR Curitiba 3,38
PR Entre Rios do Oeste 3,67
PR Quatro Pontes 2,43
RJ Nilópolis 3,76
RJ Niterói 3,55
RS Arroio do Meio 2,86
RS Bento Gonçalves 3,89
RS Boa Vista do Buricá 2,91
RS Bom Princípio 1,92
RS Campina das Missões 3,82
RS Carlos Barbosa 3,61
RS Caxias do Sul 3,65
RS Chuí 3,21
RS Colinas 2,82
RS Dois Irmãos 2,64
RS Esteio 3,91
RS Estrela 3,56
RS Feliz 1,94
RS Harmonia 1,79
RS Imigrante 3,08
RS Ivoti 2,29
RS Lagoa dos Três Cantos 1,95
RS Linha Nova 2,80
RS Morro Reuter 1,60
RS Nova Bassano 3,81
RS Nova Boa Vista 3,18
RS Nova Petrópolis 2,81
RS Pareci Novo 3,09
RS Picada Café 2,89
RS Porto Alegre 3,45
RS Presidente Lucena 2,85
RS Quinze de Novembro 3,21
RS Salvador das Missões 2,23
RS Santa Clara do Sul 3,84
RS Santa Maria do Herval 3,22
RS Santa Tereza 3,36
RS Santo Cristo 3,54
RS São José do Hortêncio 2,69
RS São José do Inhacorá 2,86
RS São Pedro da Serra 3,91
RS São Pedro do Butiá 3,82
RS São Vendelino 1,94
RS Teutônia 2,71
RS Vale Real 2,54
RS Victor Graeff 3,53
SC Balneário Camboriú 3,00
SC Blumenau 2,79
SC Brusque 3,93
SC Florianópolis 3,56
SC Gaspar 3,86
SC Indaial 3,48
SC Jaraguá do Sul 2,65
SC Joinville 3,41
SC Luzerna 3,96
SC Pomerode 1,87
SC Rio dos Cedros 3,93
SC São Bento do Sul 3,37
SC São João do Oeste 0,91
SC Schroeder 3,59
SC Timbó 2,60
SC Tunápolis 3,04
SP Águas de São Pedro 2,94
SP Santos 3,56
SP São Caetano do Sul 2,99

Friday, May 11, 2007

TURBINAS NAS RODOVIAS?



A imagem que podemos ver é a apenas uma animação do que poderá ser o projeto de um aluno da Universidade Estadual do Arizona, que pretende conseguir energia elétrica, aproveitando as turbulencias geradas pelos veículos que transitam pelas rodovias.

Assim, com essa idéia tão simples, e dotando as rodovias de estruturas, onde se instalariam os "moinhos de vento", em posição horizontal, o aluno Joe, pretende canalizar a energia para os serviços de suporte das rodovias, incluindo pedágios e fiscalizaçao. Seus calculos estimam a produção liquida anual de 9600 kWh, desde que a velocidade média dos veículos seja de 110 a 120 km/h, em sua passagem pela estrutura, com consequente incremento do valor gerado pelos caminhões, pelo acrescimo de turbulencia gerado.

Boa idéia, porem devemos ter em mente, se a mesma será posta em operação nos Estados Unidos, e torcer para que a mesma chegue ao Brasil, digamos num prazo de 100 anos. Energia barata, limpa, porem por estes trópicos permaneça apenas como um sonho.

Thursday, May 10, 2007

DEPOIS DIZEM QUE A ALEMANHA É BONITA, ROMANTICA...



.
A Alemanha acaba de conquistar um título que não enseja comemoração: o de "país mais pesado" da Europa. Uma pesquisa divulgada neste domingo (22/04) pela Associação Internacional para o Estudo da Obesidade (Iaso, sigla em inglês) aponta que 75,4% dos homens e 58,9% das mulheres na Alemanha têm excesso de peso ou sofrem de obesidade.

Nos últimos anos, esta posição fora ocupada pela República Tcheca, Chipre e pelo Reino Unido, países que este ano aparecem nesta seqüência atrás da Alemanha no ranking. Numa comparação mundial, os alemães empatam no excesso de peso com os norte-americanos.

"A obesidade tornou-se uma epidemia mundial e atingiu um ponto crítico. A Alemanha precisa contar com uma sobrecarga de seu sistema de saúde", advertiu o presidente da Iaso, Voijtech Hainer.

A associação analisou os dados sobre obesidade dos 27 países-membros da UE. A Alemanha ocupa o primeiro lugar em ambos os sexos: 52,9 dos homens e 35,6 da mulheres têm peso excessivo.

Outros 22,5% dos homens e 23,3% das mulheres na Alemanha são obesos por problemas de saúde. Nesta categoria, as mulheres alemãs ocupam o quarto lugar, e os homens o sexto na Europa. Os autores do estudo admitem que os dados não são 100% confiáveis porque os de alguns países não são atuais.Além disso, 60% dos alemães, principalmente os da classe baixa, não se movimentam suficientemente, acrescenta. Segundo Berthold Koletzko, nutricionista da Universidade de Munique, "os alemães e os tchecos têm fama de assíduos bebedores de cerveja. Ao mesmo tempo, lideram as estatísticas de obesidade".

Segundo a OMS, o peso excessivo e a adiposidade podem causar diabetes, doenças cardiovasculares, derrames cerebrais e diversas formas de câncer. Anualmente, a obesidade responde por um milhão de mortes na Europa.

No ano passado, as doenças decorrentes da obesidade foram responsáveis por 6% dos gastos dos sistemas de saúde do bloco – na Alemanha, estima-se que estes custos oscilaram entre 10 e 20 bilhões de euros.

Tuesday, March 27, 2007

ACORDANDO COM "KNUT"




Declaração Universal dos Direitos dos Animais


1 - Todos os animais têm o mesmo direito à vida.

2 - Todos os animais têm direito ao respeito e à proteção do homem.

3 - Nenhum animal deve ser maltratado.

4 - Todos os animais selvagens têm o direito de viver livres no seu habitat.

5 - O animal que o homem escolher para companheiro não deve ser nunca ser abandonado.

6 - Nenhum animal deve ser usado em experiências que lhe causem dor.

7 - Todo ato que põe em risco a vida de um animal é um crime contra a vida.

8 - A poluição e a destruição do meio ambiente são considerados crimes contra os animais.

9 - Os diretos dos animais devem ser defendidos por lei.

10 - O homem deve ser educado desde a infância para observar, respeitar e compreender os animais.

Thursday, March 22, 2007

A forma de viver

Uma vez perguntaram a Confúcio:
"O que o surpreende mais na humanidade?"

Confúcio respondeu:
"Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro para a recuperar.
Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente,
de tal forma que acabam por nem viver no presente nem no futuro.
Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se não tivessem vivido..."

Monday, March 19, 2007

Ausgang!



“Deus criou o tempo, da pressa ele não disse nada”

Sunday, March 18, 2007

MINHA VIDA



Três paixões, simples mas irresistivelmente fortes, governaram minha vida: o desejo imenso do amor, a procura do conhecimento e a insuportável compaixão pelo sofrimento da humanidade. Essas paixões, como os fortes ventos, levaram-me de um lado para outro, em caminhos caprichosos, para além de um profundo oceano de angústias, cegando á beira do verdadeiro desespero.

Primeiro busquei o amor, que traz o êxtase – êxtase tão grande que sacrificaria o resto de minha vida por umas poucas horas dessa alegria. Procurei-o, também, porque abranda a solidão – aquela terrível solidão em que uma consciência horrorizada observa, da margem do mundo, o insondável e frio abismo sem vida. Procurei-o finalmente, porque na união do amor vi, em mística miniatura, a visão prefigurada do paraíso que santos e poetas imaginaram. Isso foi o que procurei e, embora pudesse parecer bom demais para a vida humana, foi o que encontrei.

Com igual paixão busquei o conhecimento. Desejei compreender os corações dos homens. Desejei saber por que as estrelas brilham. E tentei apreender a força pitagórica pela qual o número se mantém acima do fluxo. Um pouco disso, não muito, encontrei.

Amor e conhecimento, até onde foram possíveis, conduziram-me aos caminhos do paraíso. Mas a compaixão sempre me trouxe de volta á Terra. Ecos de gritos de dor reverberam em meu coração. Crianças famílias, vítimas torturadas por opressores, velhos desprotegidos – odiosa carga para seus filhos – e o mundo inteiro de solidão, pobreza e dor transformaram em arremedo o que a vida humana poderia ser. Anseio ardentemente aliviar o mal, mas não posso, e também sofro.

Isso foi a minha vida. Achei-a digna de ser vivida e vive-la-ei de novo com a maior alegria se a oportunidade me fosse oferecida.


Prólogo da autobiografia de Bertrand Russel




WHAT I HAVE LIVED FOR.

Three passions, simple but overwhelmingly strong, have governed my life: the longing for love, the search for knowledge, and unbearable pity for the suffering of mankind. These passions, like great winds, have blown me hither and thither, in a wayward course, over a deep ocean of anguish, reaching to the very verge of despair.

I have sought love, first, because it brings ecstasy -- ecstasy so great that I would often have sacrificed all the rest of life for a few hours of this joy. I have sought it, next, because it relieves loneliness -- that terrible loneliness in which one shivering consciousness looks over the rim of the world into the cold unfathomable lifeless abyss. I have sought it, finally, because in the union of love I have seen, in a mystic miniature, the prefiguring vision of the heaven that saints and poets have imagined. This is what I sought, and though it might seem too good for human life, this is what -- at last -- I have found.
With equal passion I have sought knowledge. I have wished to understand the hearts of men. I have wished to know why the stars shine. And I have tried to apprehend the Pythagorean power by which number holds sway above the flux. A little of this, but not much, I have achieved.
Love and knowledge, so far as they were possible, led upward toward the heavens. But always pity brought me back to earth. Echoes of cries of pain reverberate in my heart. Children in famine, victims tortured by oppressors, helpless old people a hated burden to their sons, and the whole world of loneliness, poverty, and pain make a mockery of what human life should be. I long to alleviate the evil, but I cannot, and I too suffer.
This has been my life. I have found it worth living, and would gladly live it again if the chance were offered me.

Bertrand Russell in PROLOGUE.

Friday, March 16, 2007

VINHAS DA IRA

A injustiça avança hoje a passo firme.
Os tiranos fazem planos para dez mil anos.
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são.
Nenhuma voz além da dos que mandam.
E em todos os mercados proclama a exploração: isto é apenas o meu começo.

Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem:
Aquilo que nós queremos nunca mais alcançaremos.

Quem ainda está vivo nunca diga: nunca.
O que é seguro não é seguro.
As coisas não continuarão a ser como são.
Depois de falarem os dominantes
falarão os dominados.
Quem ousa pois dizer: nunca?
De quem depende que a opressão prossiga? De nós.
De quem depende que ela acabe? Também de nós.
O que é esmagado, que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aí que o retenha?
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã.
E nunca será: ainda hoje.

Bertolt Brecht, Elogio da Dialéctica

Sunday, March 11, 2007

SCHNAPS, DAS WAR SEIN LETZTES WORT





Schnaps, das war sein letztes Wort
Dann trugen ihn die Englein fort
Schnaps, das war sein letztes Wort
Dann trugen ihn die Englein fort

Und so kam er in den Himmel
Und man hat ihm Milch serviert
Gegen diese Art Behandlung hat der Lümmel protestiert

Schnaps, das war sein letztes Wort
Dann trugen ihn die Englein fort
Schnaps, das war sein letztes Wort
Dann trugen ihn die Englein fort

Uns so kam er in die Hölle
Und sein Durst der ward zur Qual
Aber außer heißem Schwefel, jab et nix in dem Lokal

Schnaps, das war sein letztes Wort
Dann trugen ihn die Englein fort
Schnaps, das war sein letztes Wort
Dann trugen ihn die Englein fort

Und so irrt er durch das Weltall
Voller Tränen im Jesicht
Denn da wimmelts von Raketen, aber Kneipen jibt es nicht

Schnaps, das war sein letztes Wort
Dann trugen ihn die Englein fort
Schnaps, das war sein letztes Wort
Dann trugen ihn die Englein fort

Schnaps, das war sein letztes Wort
Dann trugen ihn die Englein fort

Saturday, March 03, 2007

RESUMO...




"Tudo neste mundo tem seu tempo;
cada coisa tem sua ocasião.

Há um tempo de nascer e tempo de morrer;
tempo de plantar e tempo de arrancar;
tempo de matar e tempo de curar;
tempo de derrubar e tempo de construir.


Há tempo de ficar triste e tempo de se alegrar;
tempo de chorar e tempo de dançar;
tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las;
tempo de abraçar e tempo de afastar.


Há tempo de procurar e tempo de perder;
tempo de economizar e tempo de desperdiçar;
tempo de rasgar e tempo de remendar;
tempo de ficar calado e tempo de falar".


(Eclesiastes 3, 1-8)

DE NOVO: A TAL DA "CLASSE MÉDIA"

Sou classe média.
Papagaio de todo telejornal
Eu acredito
Na imparcialidade da revista semanal

Sou classe média,
compro roupa e gasolina no cartão
Odeio “coletivos” e
vou de carro que comprei a prestação

Só pago impostos,
Estou sempre no limite do meu cheque especial
Eu viajo pouco, no máximo um
Pacote CVC tri-anual

Mas eu “tô nem aí”
Se o traficante é quem manda na favela
Eu não “tô nem aqui”
Se morre gente ou tem enchente em Itaquera
Eu quero é que se exploda a periferia toda

Mas fico indignado com o Estado
Quando sou incomodado
Pelo pedinte esfomeado
Que me estende a mão

O pára-brisa ensaboado
É camelô, biju com bala
E as peripécias do artista
Malabarista do farol

Mas se o assalto é em “Moema”
O assassinato é no “Jardins”
E a filha do executivo
É estuprada até o fim

Aí a mídia manifesta
A sua opinião regressa
De implantar pena de morte
Ou reduzir a idade penal

E eu que sou bem informado
Concordo e faço passeata
Enquanto aumento a audiência
E a tiragem do jornal

Porque eu não “tô nem aí”
Se o traficante é quem manda na favela
Eu não “tô nem aqui”
Se morre gente ou tem enchente em Itaquera
Eu quero é que se exploda a periferia toda

Toda tragédia só me importa
Quando bate em minha porta
Porque é mais fácil condenar
Quem já cumpre pena de vida



Autoria: Max Gonzaga.

Thursday, February 22, 2007

HUNTINGTON GALLERY - IMPERDÍVEIS







1 - Jonathan Buttall: The Blue Boy (c 1770)
Thomas Gainsborough (1727-88)



2 - Sarah Barrett Moulton: Pinkie (1794)
Thomas Lawrence (1769-1830)

Wednesday, February 21, 2007

I MUST



I MUST down to the seas again, to the lonely sea and the sky,
And all I ask is a tall ship and a star to steer her by,
And the wheel's kick and the wind's song and the white sail's shaking,
And a grey mist on the sea's face and a grey dawn breaking.

- John Masefield: Sea-Fever

AS MAZELAS DAS CRIANÇAS "RICAS"

Estamos acostumados a ouvir sobre as mazelas do mundo chamado "em desenvolvimento", mas o Unicef acaba de divulgar esse relatório sobre a situação das crianças nos paises ricos e descobriu que ainda tem muita coisa a ser feita por aqui. Nenhum país alcançou nota máxima em todos os tópicos analisados.

Para desapontamento dos muitos anti-americanos, o pior país para as crianças, no chamado "mundo desenvolvido" (segundo 40 indicadores analisados entre 2002 e 2003, incluindo saúde, educação, relação com a família, pobreza etc), não são os EUA, mas a Inglaterra.

Isso me lembrou os que, na semana passada, citaram a Inglaterra como exemplo, por punir criminalmente crianças de 10 anos de idade... parece que os súditos da rainha não são exatamente o melhor exemplo a ser seguido quando se trata de cuidados com as crianças.

Alguns dados do relatório:

A pobreza entre as crianças dobrou no reino Unido desde 1979. 16% delas vivem em famílias que têm menos de metade do salário mínimo nacional e apenas 43% avaliam que seus colegas são gentis e ajudam uns aos outros.
Não existe relação óbvia entre bem estar da criança e a riqueza do país. A República Tcheca, por exemplo, teve um índice geral mais alto que muitos países muito mais ricos.
Mortalidade infantil vai de 3 por cada 1.000 nascimentos no Japão e Islândia a 6 por 1,000 na Polônia e EUA. (No Brasil é de 22,5 em cada mil, indo de 13.9 no Distrito Federal a 47.1 em Alagoas)
Vejam abaixo a lista completa do relatório do Unicef:

01. Holanda
02. Suécia
03. Dinamarca
04. Finlândia
05. Espanha
06. Suiça
07. Noruega
08. Itália
09. Irlanda
10. Bélgica
11. Alemanha
12. Canadá
13. Grécia
14. Polônia
15. República Tcheca
16. França
17. Portugal
18. Austria
19. Hungria
20. EUA
21. Reino Unido

ONLY A DREAM...

Monday, February 19, 2007

A revolta dos Muckers

Aos poucos vão saindo das universidades brasileiras, como teses de mestrado e doutoramento em cursos nas áreas de ciências sociais, pesquisas e interpretações que esclarecem fatos, desconhecidos e esquecidos da história brasileira. Um exemplo disso é dado pela Professora Janaína Amado, baiana de Salvador, hoje radicada em Goiânia em "Conflito Social no Brasil - A Revolta dos Mucker" (Coleção Ensaio e memória, Editora Símbolo, 304 páginas, Cr$ 95,00).

Talvez o mais esquecido - e desconhecido - dos conflitos messiânicos brasileiros, até agora centrado em canudos, na figura do padre Cícero e, em nossa região, no Contestado (também ainda a espera de novos estudos), o trabalho da professora Janaína Amado transcende a simples área de interesse específico para chegar a todos que desejam compreender os fenômenos sociais, especialmente ligado à colonização alemã no Sul. Apresentado como tese de Doutoramento ao Departamento de História da Universidade de São Paulo, o trabalho foi aprovado por uma banca da qual fazia parte a professora Altiva Pilatti Balhana, do departamento de História da Universidade Federal do Paraná.


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A revolta "mucker" ocorreu entre 1868/1874 em São Leopoldo, a primeira colônia alemã fundada no Rio Grande do Sul, prolongando-se alguns incidentes até 1898. A palavra "mucker era usada como sinônimo de "beato", "fanático" e "santarrão". Assim, os adversários designavam, na época, pejorativamente, os rebeldes. A revolta envolveu imigrantes alemães que se reuniram em torno do curandeiro João Carlos Maurer e de sua mulher Jacobina, inicialmente para obter esclarecimentos e, mais tarde, com fins religiosos: acreditavam-se eleitos por Deus para fundar na Terra uma nove era, e começaram a trabalhar concretamente neste sentido. Perseguidos pelas autoridades locais, foram presos mas libertados por falta de provas condenatórias. Em 1873 registraram-se em São Leopoldo numerosos incidentes, como assassinatos e atentados, sendo os "mucker" considerados seus autores.

O clima tornou-se extremamente tenso, com acusações de parte a parte. Em junho de 1874, os adeptos de jacobina promoveram um ataque em massa contra os principais adversários. Foram deslocadas tropas do Exército e da Guarda Nacional para a região, Os rebeldes resistiram a três ataques matando o comandante das tropas legalistas. A 2 de agosto de 1874 a maior parte dos "mucker" foi morta; os restantes foram condenados a penas altas. Os impronunciados mudaram-se para outras colônias onde, anos depois, foram trucidados pela população local.

ICH BIN...


Ich bin der Geist, der stets verneint!
Und das mit Recht; denn alles, was entsteht,
ist wert, dass es zugrunde geht;
Drum besser wär's, dass nichts entstünde.
So ist denn alles, was ihr Sünde,
Zerstörung, kurz, das Böse nennt,
Mein eigentliches Element.

Verse 1338 bis 1343 aus Goethes "Faust, Der Tragödie erster Teil"

Tuesday, January 30, 2007

VIDA DE MENINA




HELENA MORLEY


Vera Brant


Há mais de um século uma menina de treze anos, em Diamantina, começava a escrever o seu diário, por sugestão do pai, filho de ingleses nobres que vieram para o Brasil em busca de um clima para curar a tuberculose do seu chefe, o médico Dr.John Dayrell.
A família esteve, inicialmente, em Nova Lima, na Mina do Morro Velho e, depois, em Diamantina, onde o Dr. John fundou a Santa Casa e ali trabalhou durante toda a vida, até morrer, aos noventa anos.
O pai de Alice, Felisberto Dayrell, era minerador.
O diário de Helena Morley, pseudônimo de Alice Dayrell Caldeira Brant, tem a data inicial de 5 de janeiro de 1893.
Dotada de uma inteligência agudíssima e de uma sensibilidade invulgar, ela foi anotando no seu caderno escolar os acontecimentos que se desenrolavam ao seu redor, naquela cidadezinha mineira de gente simples e extremamente bondosa.
Enquanto seu pai escavava a terra à procura de diamantes e de ouro, ela acompanhava a mãe e os irmãos, atravessando becos e pontes em direção ao rio, onde lavavam as roupas da família.
Ela esfregava a roupa com as suas pequenas mãos, enquanto o seu olhar e a sua sensibilidade acompanhavam o que se passava ao redor: o barulho da queda a água naquele pequeno regato de pedrinhas redondas e claras, as borboletas que voavam, o seu irmão Renato pescando lambaris.
E quando chegava em casa anotava tudo, para guardar na lembrança aqueles momentos.
A mestra Joaquininha a considerava a aluna mais inteligente da escola. Mas ela duvidava, pois não gostava de estudar, só gostava, e muito, de ler histórias e romances, e de escrever.
“Eu acho que se fosse má seria mais feliz”, escrevia ela quando voltava, aos prantos, da casa de duas amigas da mãe, aonde fora levar umas broas de fubá e as encontrara enforcando um gatinho.

“Hoje fui chegando para o almoço e encontrando Nhonhô na porta da rua com uma asa do meu curió na mão e dizendo: Olha o que a gata fez; comeu seu curió. Eu não posso dizer o que senti, mas caí na cama com os livros na mão, soluçando tão alto que mamãe veio correndo na cozinha, pensando que tinha havido alguma coisa”.
“ Mamãe diz que não se deve ficar alegre na Semana Santa, porque é a semana do sofrimento de Jesus. Eu creio muito nas outras coisas da religião, mas não acredito que ninguém fique triste do sofrimento de Jesus Cristo, depois de tantos anos, e dele já estar no Céu, ressuscitado e feliz”.
“Meu pai diz sempre que gosta mais do meu gênio que do de Luizinha; que eu sou franca, digo o que penso e o que faço e Luizinha é das caladinhas que são mais perigosas”.
A tia Carlota confessando-se com o Bispo e ele fazendo-lhe mil perguntas em lugar de deixá-la à vontade, contando-lhe os seus pecados.
Os tachos de angu, os leitões nos dias de festa. O tutu de feijão. Os torresmos. As cocadas. As macumbas. As velas acesas. As promessas. A criadagem na ginga.
A tristeza de não compreender as criaturas ao seu redor, com pensamentos e sentimentos limitados, rasos.
A paixão pela avó que vivia exclamando: “Forte coisa!” E que a amava muito e a defendia sempre.
Quando a sua querida avó adoece, ela escreve, sentida, percebendo o perigo de perder a sua protetora:
“Nestes dias da doença de vovó eu me esqueci de todas as felicidades que tenho tido e fico só pensando nos sofrimentos. Quem encontrarei mais na vida para dizer-me que sou inteligente, bonita e boazinha?”.
A dificuldade de entender a decepção do pai quando voltava do garimpo sem encontrar o ouro: “Se ele não guardou o ouro lá, por que se decepcionou?”.
A preocupação com a desigualdade social, com o sofrimento dos pobres.
“Depois do almoço mamãe não nos deixa meter os pés na água porque diz que faz mal. Sempre pergunto que mal faz mas nunca explica. Pergunto por que não faz mal aos mineiros que entram na água até os joelhos logo depois de comerem, e ficam na água o dia inteiro, e ela responde que é por estarem habituados”.


Quando fui morar no Rio, em 1956, passei a conviver muito com Alice. Ela morava numa bela casa, na Lagoa Rodrigo de Freitas.
Ia à sua casa duas vezes por semana com a Sarita, sua filha.
Aos domingos havia a reunião da família toda, umas quinze pessoas.
Alice sentava-se à cabeceira da mesa com o seu porte elegante e sua personalidade fortíssima e comandava aquele bando de malucos inteligentíssimos, contando histórias extravagantes e muito interessantes.
Falavam quase todos ao mesmo tempo e Abgar Renault, seu genro, casado com a sua filha Ignez, pedia: “Silêncio! Vamos falar só quatro de cada vez, senão ninguém se entende”.
Mas, quando Alice começava a contar as suas histórias, era aquele silêncio. Todos a escutavam, encantados. Eram sempre assuntos diferentes, espirituosos, interessantes.
Certa vez Alice, que nunca saía de casa, me informou que iria, no dia seguinte, visitar a irmã do meu namorado para ajudar no meu casamento. E queria que eu fosse com ela.
Eu trabalhava no Ministério da Educação e tive que conseguir, com o meu chefe, uma folga para acompanhá-la. Saí mais cedo do serviço e fui para a sua casa.
Ela estava tentando colocar dois lindos brincos de brilhantes. Não entendi bem aqueles brilhantes durante o dia, mas ela insistia tanto que resolvi ajudá-la. Os furinhos das orelhas já estavam fechados, cicatrizados, de tanta falta de uso, foi uma luta para abri-los de novo. Depois de muita peleja, ei-la elegante e bela, com um vestido chique, pronta para a aventura.
Lá fomos nós. Eu, meio sem entender nada, imaginando até que ela havia tramado com a Margarida, irmã do namorado, um pedido de noivado.
O apartamento era uma graça.
A irmã e a sobrinha do meu namorado eram mulheres muito bonitas e prendadas. Mostraram-nos toalhas que elas mesmas bordaram, colchas de tricô que elas mesmas tricotaram e, para o meu desespero, todos os bolos e salgadinhos na mesa do lanche tinham sido preparados pelas duas mais-que-perfeitas.
Entre uma demonstração de habilidade e outra, elogiavam o irmão.
E Alice, nada. Nem um elogiozinho a mim, para equilibrar.
Quando provou o biscoito de nozes que estava mesmo uma delícia, não se conteve e exclamou, constrangida:
_Coitada da Verinha, não vai poder entrar para esta família. Ela não sabe fazer nada!
Fiquei arrasada.
Na volta para casa, exclamei:
_Mas você, hein, Alice? Vem para ajudar no meu casamento e estraga tudo, acaba com ele.
_Mas o que foi que eu fiz?
_O quê? Não se lembra? Apenas disse, com todas as letras, que eu não sei fazer nada, não sirvo para casar.
Ela teve um acesso de riso tão forte que contagiou a mim e ao Rubens, seu motorista. Ele teve que parar o carro, porque não conseguia apertar o acelerador, de tanto rir.
Quando chegamos à sua casa, o seu marido, Augusto Mário, nos esperava na varanda. Estava curioso para saber o resultado da visita e perguntou:
_Como foi o passeio?
A Alice pretendeu dizer que foi uma tragédia mas não conseguiu chegar ao final da frase porque teve outro acesso de riso. E eu, mesmo sendo a prejudicada, também não conseguia parar de rir. Fomos direto para o banheiro.
Quando a Sarita chegou, também curiosa para saber as novidades, o Augusto Mário disse:
_Eu acho que as duas enlouqueceram. Desde que chegaram não pararam de rir e não conseguiram dar uma palavra.
Mas não foi por isso que acabou o namoro. Foi o desencontro das águas. Acho que a minha família não entendeu, até hoje, como foi que eu consegui namorar aquele rapaz, tão pouco inteligente, durante tantos meses e, o pior de tudo, encantada.
Se eu não freqüentasse uma família tão inteligente e irreverente, aquele namoro talvez até desse certo. Mas era demais. Nunca vi gente tão impaciente com a burrice alheia. O Eduardo, filho da Sarita, e o Flávio, seu irmão, ambos inteligentíssimos, faziam perguntas ao meu namorado só para desmoralizá-lo. As respostas eram trágicas.
Depois dele eu só namorei homens inteligentíssimos, o que também não deu certo.
Quando fui à Europa, pela primeira vez, namorei um rapaz bonito, inteligente e culto, que, meses depois, veio ao Rio passar as férias. Levei-o para almoçar na casa de Alice, no domingo. Ele falava um italiano misturado com espanhol, mas se fazia entender. E entendia o que falávamos.
Até Augusto Mário, que era uma pessoa cultíssima – fora jornalista, economista, político, escritor, é autor do livro “Viagem à Argentina” – e exigente, ficou impressionado.
Fiquei eufórica. Estava resgatada, junto à família. A minha capacidade de escolher namorados já não estava em baixa. Todos concordaram com a beleza, a cultura e a inteligência. Mas concluíram que eu não tinha interesse definido por determinado tipo físico, nem mental. O Paolo era loiro, olhos azuis, alto, magro, totalmente diferente do Ivan que era moreno.
Só que o italiano ficava à minha disposição dia e noite. Foi me dando um enjôo tão grande que não sabia mais o que fazer.
Resolvi contar a Alice e pedir-lhe um conselho.
Ela ficou horrorizada:
_ Verinha, você vai acabar solteirona. Um rapaz bonito, bem de vida, culto, com aqueles olhos azuis.
Eu disse:
_Eu acho que foram os olhos azuis que me enjoaram, Alice. O céu é azul mas se enche de nuvens, escurece, chove, anoitece, depois fica azul de novo. Mas, os olhos, não. É aquele azul forte o tempo todo, me olhando. Não estou suportando. Amor não tem nenhum compromisso com inteligência, sabedoria, beleza, nada disso.
Ela me respondeu:
_Com a beleza não tem nada a ver, não. Mas com a inteligência tem, sim. Você não suportaria viver, durante muito tempo, com um homem pouco inteligente.
Quando eu adoecia, ia passar uns dias em casa de Alice, pois não tinha ninguém para cuidar de mim. A Hilda, minha empregada, só ia duas vezes por semana.
Alice tinha o hábito de dormir à tarde, mas, naqueles dias, ia para o meu quarto e ficávamos conversando horas seguidas.
Um dia ela me contou que, quando menina, sua tia havia dado uma surra na escrava. A escrava era o dobro da tia, que era franzina e muito brava.
Alice estava louca para saber como ela havia conseguido aquela proeza, mas tinha muito medo da tia brava.
Certa vez, tomou coragem e perguntou:
_Minha tia, como foi que a senhora conseguiu dar uma surra na fulana que é muito mais forte que a senhora?
A sua tia respondeu:
_Eu experimentei, dando um tapinha. Ela não reagiu, eu avancei.
Nunca, na vida, me esqueci dessa lição. A qualquer ameaça de tapinha, moral ou física, eu reagia logo, antes que o inimigo avançasse.
A Maria da Penha era uma figura humana interessantíssima. Tinha vinte e poucos anos, era bonita, simpática, excelente empregada. Só tinha um defeito, grave: Não podia acordar sem ser naturalmente. Se alguém a chamasse de manhã, durante o sono, ficava num mau humor de ninguém suportar. Então, a única solução era deixá-la dormir até o sono acabar.
Adorava bichos e resolveu criar gatos. Em poucos meses havia mais de dez gatos.
Certa manhã, Alice desceu mais cedo para a cozinha e a gataria toda começou a puxar a sua saia e arranhar as suas pernas, com certeza pedindo leite ou comida.
Lá pelas tantas ela perdeu a paciência e chamou o Rubens, motorista. Ele estava exatamente limpando e lubrificando o carro que Augusto Mário mantinha, sempre, na garagem para, na hipótese de morte de algum amigo, ou de uma autoridade, não ter que incomodar ninguém. Acontece que, quando morria um amigo, ou o carro estava enferrujado ou o Rubens sumido.
Neste dia estava tudo certo: o carro lubrificado e o Rubens ali.
Alice não perdeu tempo: chamou o Rubens e determinou que colocasse todos os gatos num saco e os soltasse no mato. Ele adorou a idéia de poder passear um pouco. Em poucos minutos juntou a gataria ao redor do prato de leite, colocou-os no saco e se mandou para a rua.
Quando a Maria da Penha acordou e soube da confusão toda, abriu o maior berreiro:
_ A senhora é um monstro, como pôde fazer tamanha maldade? E agora, o que vai ser dos pobres gatinhos, quem lhes dará leite. Os pobrezinhos no mato, com cobra e tudo, morrendo de frio à noite. Ai, meu Deus! E chorava, chorava.
Alice foi entrando em pânico. Acho que já estava arrependida e assim não deu uma palavra e saiu de mansinho para a cozinha, pois já sabia que, naquele dia, não ia ter nem um ovo frito para comer, se dependesse da Maria da Penha.
Quando o Rubens voltou, já era mais de meio dia. Alice foi dando ordem:
_ Volte lá e só retorne depois que encontrar o último gato.
Alice havia acordado cedo e o Rubens estava lubrificando o carro, justamente porque havia morrido um amigo do casal. O enterro seria às quatro horas da tarde. Todos prontos para sair e, cadê o Rubens? Nada. Cansaram de esperar e chamaram um táxi.
Lá pelas sete horas da noite, quando Augusto Mário e Alice já haviam regressado, também de táxi, chegou o Rubens, todo suado e arranhado, e só com dois gatos.
A Maria da Penha brigou com ela e foi embora para a casa da Sarita.
Meses depois, ela disse à Sarita que queria de volta a Maria da Penha.
Sarita teve um trabalho enorme para substituir a Maria da Penha para trazê-la de volta para a casa da sua mãe. Duas semanas depois, avisou a Alice que traria a empregada no dia seguinte.
Alice, na maior tranqüilidade, respondeu:
_Não traga não, porque não a quero mais.
Sarita, desapontada:
_Mas, mamãe, eu tive um trabalho enorme para conseguir outra empregada e agora você muda de idéia?.
E, Alice, calmamente:
_E você acha que eu sou mulher para ter uma opinião só a vida inteira?
Num domingo, eu não fui à casa de Alice para o almoço porque estava indisposta, com dor de estômago. Na segunda feira ela foi ao meu apartamento, me visitar.
Era um apartamento mínimo, com quarto e sala, e uma janela enorme, no décimo andar.
Ela foi entrando e dizendo:
_Verinha, que apartamento perigoso! Se você entrar nele com muito entusiasmo, vai sair pela janela.
Ficamos a tarde inteira conversando. Ela me contou o quanto gostava da minha mãe, sua prima. Que freqüentava muito a nossa casa, quando eu era pequena.
Perdi a minha mãe com oito anos e pedi a Alice que me contasse detalhes de sua personalidade, das coisas das quais eu não podia me lembrar.
Lembro-me de uma das histórias, ótima: a sua nora, Elza, estava brigando muito com o seu filho Caio e fazendo-lhe muitas críticas. Dizia, no entanto, que o amava.
Alice decidiu:
_Vamos à casa de Amália. Lá você vai ver o que é amor.
Foram. A Elza, uma mulher linda e chique, chegou à nossa casa toda animada para ver o amor de perto. Só encontrou um bando de crianças descabeladas: éramos nove, o mais velho com dezoito anos e a mais nova, recém-nascida.
A mamãe, linda, cuidando dos filhos, fazendo doce de casca de laranja, o que o Zezé mais gostava – dizia com a maior alegria - porque Zezé pra cá, Zezé pra lá, e contava casos do Zezé. E vinha menino, chateava, ela mandava sair para o jardim, vinha outro, enchia a paciência, ela colocava para dormir. A pequenina chorava, ela ia correndo acudir e já a trazia no peito, continuando as histórias e... mais Zezé, mais Zezé.
A Elza, dizia Alice, estava completamente zonza. Ela, que só tinha dois filhos, Felisberto e Arnaldo, que viviam limpos, penteados, com as babás, tudo em ordem, não estava se adaptando àquela bagunça e cutucava Alice para irem embora.
Quando Alice ameaçou sair, a mamãe não deixou:
_De jeito nenhum, vocês vão esperar o Zezé, está na hora dele chegar.
E contou mais histórias para distraí-las enquanto o Zezé não chegava.
E chegou o Zezé, meu pai: baixo, feio, falando tão depressa que não dava para entender nada.
Os olhos da minha mãe faziam ondas, refletiam a felicidade. E o Zezé falando duas palavras de cada vez, Alice e Elza não entendendo nada e a minha mãe traduzindo, aquela confusão.
Cansaram de tanta loucura e foram embora, deixando os dois pombinhos com a filharada.
No caminho, Elza quis saber de Alice qual era o sentido daquela visita, o seu vestido branco todo sujo de mão de menino, aquele cansaço de confusão mental completa. E ouviu a resposta:
_Amor é isso, minha filha. A mulher, quando ama, tira de letra um dia como este, que para você pareceu um martírio, na maior tranqüilidade. Quando o Zezé chega, passa a borracha nas tormentas todas e cai nos seus braços como no primeiro dia de casamento. Você, desocupada do jeito que é, com o marido bonitão que tem, fica botando minhoca na cabeça e criando problema onde não existe. Acho que é desamor. Não tem outra explicação.
Esta história é uma definição de Alice. Ela não precisava sair de casa para mostrar o que era o amor. O exemplo era ela própria, com Augusto Mário.



Alice possuía uma memória fantástica. Contava-me episódios da sua infância, no final do século atrasado, pois ela nasceu em 1.880, e eu ficava extasiada com a sua coragem e personalidade.
Sempre havia imaginado que, naquela época, até muitos anos depois, as mulheres eram umas bobocas, fazendo só o que os pais e os maridos permitissem e dizendo amém a todos. Mas, não. Alice dialogava com os pais, dizia-lhes o que bem entendia, discordava, opinava, concordava às vezes, não arredava um milímetro do que considerava ser o correto.
O namoro com Augusto Mário, seu primo e sua única paixão, começou quando ele voltou de São Paulo, onde passara vários anos estudando Direito e, tendo-se formado, voltara para Diamantina.
Quando estava para voltar, a família toda se organizou para recebê-lo com festas e homenagens.
Alice não tinha uma só roupa que prestasse. Só possuía uma saia nova e não tinha dinheiro para comprar uma blusa.
O seu Luís, que era encantado com ela e queria namorá-la, era filho do seu Mota, dono da loja de tecidos. Quando ela lhe contou o seu aperto, ele se propôs a levá-la à loja e pedir ao pai que desse a ela um pedaço de tecido para fazer a blusa. Foram. Foi feita a blusa.
Vindo de São Paulo, Augusto Mário passou uns dias em Belo Horizonte e, lá, quis saber dos primos como estava Diamantina e, principalmente, como estavam as moças que ele havia deixado anos atrás, meninas ainda.
Um dos primos fez-lhe o relatório de cada uma das moças, umas lindas, outras, estudiosas, interessantes, chiques. Mas... existe uma, a Alice, que não sendo bonita, nem a mais elegante, é a mais encantadora de todas. No ambiente em que ela se encontrar, depois que começa a falar, com tanto espírito, inteligência e simpatia, cresce e supera todas as outras, por mais bonitas que sejam.
Aquilo ficou gravado na memória de Augusto Mário. E ele pensava: Será possível a Alice, aquela menina magrela, agressiva, irreverente, ter se tornado uma mulher tão interessante?
Afinal, chegou a Diamantina.
A família inteira reunida e orgulhosa do seu doutor em Direito, formado em São Paulo.
Foram todos para a casa de seus pais, onde seria a festa. Dois amigos iriam buscá-lo na estação e levá-lo à casa.
Quando ele chegou, foi aquela quantidade de palmas e sorrisos, abraços. Um das primas trouxe-lhe um ramo de flores. Ele, encabulado, sem saber o que fazer com as flores, procurou com os olhos alguém a quem entregá-las e encontrou Alice, que estava próxima, e ofereceu-lhe o ramo de flores. Foi a conta: o seu Luís ficou morto de ciúmes e queria porque queria que Alice lhe devolvesse a blusa.
Para o sábado seguinte estava programada uma festa com dança e tudo, e o sofrimento de Alice começou de novo. E a roupa?
Depois de muita luta, conseguiu um pano e fez um vestido de festa.
As mulheres estavam muito chiques e ela se sentia humilhada. E não conseguiu fazer sucesso porque ficou calada, num canto.
Qual não foi a sua surpresa quando Augusto Mário, depois de dançar com várias moças, foi buscá-la para dançar. Ela ficou encabulada. Seu coração dava pulos no peito e foi uma luta para encontrar o rítmo.
Controlou-se e começaram a conversar. Ele não a deixou mais, até o final da festa.
Naquela noite, quando chegou à casa, ela se ajoelhou
aos pés da cama e pediu a Santo Antônio, com todo o fervor, que, se não fosse para casar com ele, tirasse aquela ilusão de sua cabeça de uma vez por todas, porque não queria sofrer aquele amor que já brotava com tanta força em seu coração e que ela imaginava muito violento.
Mas não era só ela quem estava apaixonada por ele. Uma meia dúzia de moças também. Era, naqueles dias, o assunto de Diamantina.
Ela, então, decidiu sumir da vida dele, para evitar sofrimentos.
Um dia, tendo ido ao armarinho comprar botões e fitas, percebeu que ele a acompanhava. Andou mais rápido e ouviu o barulho de seus passos. Ouviu-lhe a voz, chamando-a . Apertou os passos e saiu correndo, ele correu atrás.
Quando chegou à porta de casa, já exausta, começou a subir as escadas, com dificuldade.
Foi quando ele, alcançando-a, puxou-a pelos cabelos e lhe deu um beijo.
Ela ficou tonta, desnorteada, sem entender nada.
_Quer se casar comigo?, sussurrou ele.
_Agora, querendo ou não querendo, temos de nos casar, pois você já me beijou e estou desonrada, respondeu Alice.
Casaram-se. E parece-me que Alice foi, durante toda a vida, a companheira que mais amou o homem com quem se casou.
Um dia, acordei com Alice me passando a maior descompostura:
_Você deve estar pensando que também é rica porque convive com Ignez, Sarita e Yolanda, mas você é pobre, Verinha. Convença-se disso! Comece a fazer loucuras e depois vai se encalacrar toda, encher-se de dívidas e não vai conseguir pagar com este emprego mixuruca.
Eu, sem entender nada, resmunguei:
_ Ser pobre já é desagradável, mas ter alguém que já, de manhã cedo, vem me xingando de pobre é o fim da picada. O que foi que eu fiz para esse xingatório todo?
_Comprou uma geladeira elétrica a prestações. E não me pergunte quem me contou porque eu estou proibida de dizer, foi falando.
_Mas, Alice, você com esta fama toda de inteligente, não raciocinou ainda que aquela geladeira de gelo que você me deu foi o maior presente de grego do mundo? Dia sim, dia não, tenho de comprar uma barra enorme de gelo que se derrete e vai para o esgoto. Vou passar a minha vida inteira jogando o meu dinheirinho minguado no esgoto? Já uma geladeira elétrica, com uma prestação um pouquinho mais alta do que as barras de gelo, ficará para a vida toda. Para você ter uma idéia, pretendi dar a geladeira de gelo para o porteiro e ele não aceitou. Foi mais inteligente do que eu.
Ela ficou parada, olhando para a minha cara um tempão e saiu com a proposta mais extravagante que já recebi em toda a minha vida:
_Sabe de uma coisa, Verinha? Você é mesmo muito inteligente e não pode continuar nessa pobreza. Vamos escrever um livro, juntas. O José Olympio anda louco para publicar outro livro meu. Aí, ele publica, todos ficam conhecendo o seu talento e você fica rica.


Minha Vida de Menina



Em 1941 a família Brant morava num apartamento, enquanto a sua casa estava sendo construída na Lagoa Rodrigo de Freitas, perto do Corte Cantagalo onde existe, hoje, o Edifício Helena Morley.
Alice detestava morar em apartamento.
Certa tarde de sábado, para distrair os filhos, pegou dentre os seus guardados o diário que havia escrito quando menina e resolveu ler para eles e para o marido.
Todos escutavam encantados.
Ao final da leitura o marido Augusto Mário, sugeriu:
_ Por quê não publicamos esse diário? Muita gente iria ter a oportunidade que estamos tendo de ouvir histórias tão interessantes de uma menina inteligente numa cidadezinha mineira, no final do século passado.
Alice não achou muita graça na idéia. Ignez, sua filha, adorou.
Depois de muita discussão, Alice concordou em transformar tudo aquilo num livro, desde que fosse com pseudônimo, do contrário Diamantina inteira iria brigar com ela.
Pensaram vários nomes. Alice preferiu Helena porque achava um nome muito bonito. E o sobrenome Morley, de sua avó materna.
Assim nasceu Helena Morley.

O livro foi lançado pela Livraria José Olympio em 1942.
Foi o maior sucesso. O Brasil inteiro comentava e as edições se esgotavam, uma após outra.


O que eu choro na sua ausência
não é a rosa do teu corpo jovem, abatida no haste,
nem a tua alegria, que não mais verei:
doem-me os teus frutos, que, ao caíres, esmagaste sobre ti;
amarga-me o quinhão de tempo e flor
arrebatado às tuas mãos de vida”.