Monday, February 19, 2007

A revolta dos Muckers

Aos poucos vão saindo das universidades brasileiras, como teses de mestrado e doutoramento em cursos nas áreas de ciências sociais, pesquisas e interpretações que esclarecem fatos, desconhecidos e esquecidos da história brasileira. Um exemplo disso é dado pela Professora Janaína Amado, baiana de Salvador, hoje radicada em Goiânia em "Conflito Social no Brasil - A Revolta dos Mucker" (Coleção Ensaio e memória, Editora Símbolo, 304 páginas, Cr$ 95,00).

Talvez o mais esquecido - e desconhecido - dos conflitos messiânicos brasileiros, até agora centrado em canudos, na figura do padre Cícero e, em nossa região, no Contestado (também ainda a espera de novos estudos), o trabalho da professora Janaína Amado transcende a simples área de interesse específico para chegar a todos que desejam compreender os fenômenos sociais, especialmente ligado à colonização alemã no Sul. Apresentado como tese de Doutoramento ao Departamento de História da Universidade de São Paulo, o trabalho foi aprovado por uma banca da qual fazia parte a professora Altiva Pilatti Balhana, do departamento de História da Universidade Federal do Paraná.


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A revolta "mucker" ocorreu entre 1868/1874 em São Leopoldo, a primeira colônia alemã fundada no Rio Grande do Sul, prolongando-se alguns incidentes até 1898. A palavra "mucker era usada como sinônimo de "beato", "fanático" e "santarrão". Assim, os adversários designavam, na época, pejorativamente, os rebeldes. A revolta envolveu imigrantes alemães que se reuniram em torno do curandeiro João Carlos Maurer e de sua mulher Jacobina, inicialmente para obter esclarecimentos e, mais tarde, com fins religiosos: acreditavam-se eleitos por Deus para fundar na Terra uma nove era, e começaram a trabalhar concretamente neste sentido. Perseguidos pelas autoridades locais, foram presos mas libertados por falta de provas condenatórias. Em 1873 registraram-se em São Leopoldo numerosos incidentes, como assassinatos e atentados, sendo os "mucker" considerados seus autores.

O clima tornou-se extremamente tenso, com acusações de parte a parte. Em junho de 1874, os adeptos de jacobina promoveram um ataque em massa contra os principais adversários. Foram deslocadas tropas do Exército e da Guarda Nacional para a região, Os rebeldes resistiram a três ataques matando o comandante das tropas legalistas. A 2 de agosto de 1874 a maior parte dos "mucker" foi morta; os restantes foram condenados a penas altas. Os impronunciados mudaram-se para outras colônias onde, anos depois, foram trucidados pela população local.

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